A ilusão de Passos é a desilusão portuguesa.


«Estamos mais próximos de vencer a crise». A frase do Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho, na Festa do Pontal, no Algarve, na semana passada, não me sai da cabeça.
O que Passos Coelho disse naquele discurso é não só um perigo que um Chefe de Governo não pode cometer, como faz lembrar a irresponsabilidade de outros, que no passado recente, decretaram o fim da crise de forma infantil.
Para Manuel Pinho já basta um. Só um louco pode acreditar que a economia portuguesa inverta a curva actual em 2013 e entre no caminho da estabilização.
A Troika está aí, para nova avaliação, mas em contraponto com as medidas que pediu, do outro lado, o cenário não é lá muito famoso. Oficialmente são 800 mil os desempregados nas contas do INE. Mas os valores reais dão como certos cerca de 1 milhão e 200 mil portugueses sem trabalho.
A desculpa que o Primeiro-Ministro usou na Festa do Pontal de que Governo não estava preparado para uma recessão tão grave e um desemprego tão elevado em 2012, é demagógica.
Uma economia não pode renascer com contracção da actividade, com níveis como este de desemprego, com centenas de empresas a fechar as portas todos os dias, com a carga fiscal existente e, muito menos, com palavras incertas como as que temos.
E é bom que nos avise, a nós, privados, até ao fim de Setembro como tenciona compensar o chumbo do Tribunal Constitucional ao corte dos subsídios de férias e Natal dos funcionários públicos.
Bem sabemos que não há margem e que o privado vai ter de pagar a factura que o Estado apresentou ao fim de 30 anos de desvarios. A recessão, sr. Primeiro-Ministro, vai continuar em 2013, não tenha ilusões.
Uma política de baixos salários, de desinvestimento económico e de desemprego de 15% não pode ter um final feliz.
Não recuperaremos deste fosso sem que estes três factores estejam tratados. E o défice, esse malandro que nos obriga a fazer os tais sacrifícios, não sairá assim tão magro no final desta história.
Mas cá estaremos para ver onde vamos parar.

Este texto foi também a minha crónica da Rádio Antena Livre desta segunda-feira. Em 89.7 (Abrantes). E aqui fica reproduzido, agora em texto.

Comentários

Mensagens populares