Os ricos intocáveis e a tradição que não muda.
Apesar
da austeridade que se vive por toda a Europa, os ricos continuam mais ricos e
os pobres cada vez mais pobres. É já um clássico nas economias abertas.
No
caso de Portugal, em 2012, a tendência foi igualmente aumento da riqueza das
fortunas das grandes famílias e empresas do país.
O
portal Dinheiro Vivo publicou nos últimos dias um estudo que indica
precisamente a tal tendência: no ano passado, as maiores fortunas portuguesas
cresceram 13%, o que equivale a 1,54 mil milhões de euros. A fortuna
que mais cresceu foi a da família Soares dos Santos, dona do Pingo Doce, que
viu em 2012 a riqueza subir em 714 milhões de euros.
Belmiro de
Azevedo, Patrão da Sonae, viu a sua fortuna crescer 293 milhões de euros,
enquanto a riqueza da família Queiroz Pereira (da Portucel) aumentou 275
milhões.
Não me
incomoda as grandes fortunas, acho até que elas são fundamentais para ajudar o
tecido económico e empresarial do País. Contudo, são também estas famílias e
empresas as intocáveis, que o Estado tudo perdoa, tudo alivia, tudo ignora.
Em
contraponto, o
Eurostat avançava no início de Dezembro passado, números alarmantes e que
massacram a alma de qualquer um: números que ditam 2,6 milhões de portugueses
em risco de pobreza ou de exclusão social. Portugueses a quem o Estado não
perdoa, não alivia e não ajuda.
A
juntar a tudo isto, assistimos, impávidos e serenos, ao plano de
recapitalização do Banif, onde o Estado vai injectar 1100 milhões de euros,
tornando-se assim o maior accionista com mais de 50% do capital do banco.
É
triste que os mais ricos deste país, a banca e o Estado sejam sempre os lados
mais fortes de uma barricada onde os contribuintes permanecem como os mais fracos,
deixados reféns dos sacrifícios pedidos.
Infelizmente,
estamos todos a empobrecer para salvar a banca e para salvar a pele de muitos
para quem a austeridade só deve cair em cima da classe média.
E
eu acrescento: esta gente só descansa quando a morte sair à rua, como cantou o
saudoso Zeca Afonso.
Crónica
de segunda-feira, 7 de Janeiro, na Rádio Antena Livre, 89.7, Abrantes.
Comentários
Vê-se, se isso fosse verdade essas fortunas não teriam crescido enquanto os outros seus concidadãos empobreceram miseravelmente.