Partidocracia em força.



Depois de várias semanas de loucuras e encenações políticas e eleitoralistas, o compromisso de salvação nacional pedido pelo Presidente não teve, como se esperava, o sucesso pretendido. Cavaco Silva tomou uma decisão: não convoca eleições e legitima o actual Governo para continuar até ao fim. Uma conclusão óbvia para quem soube ler nas entrelinhas do discurso que o Presidente fez ao país a 10 de Julho. Na verdade, nada disto importa, porque o que fica, depois das negociações pseudo sérias que assistimos na passada semana, são muitas dúvidas e algumas certezas. Em primeiro lugar, o Partido Socialista, refém de um Memorando que assinou e assumindo novamente o fraco papel como maior partido da oposição, fez aquilo que a democracia ainda permite: disse ‘NÃO’ à maioria que sustenta o Governo de Pedro Passos Coelho. Erram os que pensam que Cavaco quis encostar o PS à parede, como estão também enganados os que pensam que Seguro saiu reforçado com este desfecho.

Mesmo que houvesse eleições este ano, com Seguro ou com outro Primeiro-Ministro, nada do que o PS hoje defende será possível, a menos que se encontre uma fórmula mágica para pagar os empréstimos, reduzir o défice orçamental e diminuir a despesa pública. O PSD e o CDS,  e os seus respectivos líderes, que abriram esta crise política, estão mortos politicamente, pelo menos na próxima década. Cavaco fez tudo, é certo, para evitar o mal maior das eleições antecipadas. Mas o Presidente, que agora prova o veneno que muitos acham que espalhou, fica de novo com a batata quente na mão. E merecidamente. Porque o sonho de Sá Carneiro, uma espécie de Troika com princípios sociais-democratas – com a velha máxima de um partido, uma maioria, um presidente – durou pouco mais de dois anos. Já o disse várias vezes. Comungo da opinião de que neste momento irmos para eleições seria o pior dos cenários, unicamente pela grave situação que o País atravessa e porque sabemos todos que, seja qual for o partido vencedor, a política de austeridade é para manter. Não apenas porque a Troika o impõe mas sobretudo porque é impossível manter o despesismo e a gestão pública como até agora. É neste ponto que António José Seguro, e muitos socialistas que muito respeito, não merecem credibilidade. Vivem numa espécie de mundo de fantasia onde o que importa é voltar de novo ao poleiro. Manter Paulo Portas no Governo, com todas as exigências que conhecemos, é como manter uma víbora à solta num infantário. Será mau de mais se Cavaco o fizer. E esta foi a grande lacuna do discurso presidencial de ontem à noite. Ficamos todos sem saber que Governo, afinal,  se mantém em plenitude de funções. Desconhecemos se o Presidente viabiliza a remodelação que Passos Coelho propôs. Uma coisa é certa, o Executivo de direita que nos governa perdeu a força política que lhe restava para prosseguir e mais cedo ou mais tarde, tombará com grande estrondo. Basicamente, estamos entregues a um bando de irresponsáveis que nos deixam cada vez mais sem futuro e estamos todos metidos num beco sem saída.

Talvez por isso, comece seriamente a achar que a democracia e a liberdade política deviam ser suspensas por uns tempos. Talvez devêssemos mesmos chamar uma meia dúzia de alemães para limpar a porcaria toda que por cá fizeram substituindo, assim, esta partidocracia louca e à solta que deixamos propagar de norte a sul.  

Crónica de 22 de Julho na Antena Livre, 89.7 Abrantes.

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