Uma Croácia que chega. Sonhos que se vão [?].



Há precisamente dez anos a Croácia fez o pedido de adesão à União Europeia. Hoje esse pedido é consumado de forma oficial. É histórica esta adesão que hoje se consuma já que ela acontece no pior momento da História da União Europeia, quer em termos políticos, sociais e económicos. A Croácia, que tem uma taxa de desemprego de 18,1%, a terceira mais alta entre os Estados-membros, e um poder de compra 39% abaixo da média europeia, tem esperança nesta União dilacerada. Com pouco mais de 4 milhões de habitantes todas as ajudas europeias, seja em fundos comunitários ou em apoio institucional, são bem-vindas para um país que já se entusiasmou mais com o projecto europeu que nos dias que correm. Desta vez, escolhi o tema da adesão croata porque sei que as questões europeias são assuntos que a sociedade civil pouco interesse ou nenhum tem sobre elas. Mas considero que, se vivemos nesta União agora a 28, temos de enfrentar o bom e o mau que ela nos proporciona. E, a verdade, é que infelizmente cada vez mais a vida dos milhões de europeus se decide nas decisões tomadas em Bruxelas. Por isso, ao contrário do que pensamos, as nossas vidas, enquanto portugueses, estão mais nas mãos de Bruxelas do que de São Bento. Por mais que isto nos custe, esta é a verdade, nua e crua. Mas para um país como a Croácia, com um passado de guerras e regimes autoritários, aderir à União Europeia significa, antes de mais, fazer parte de uma comunidade com valores de progresso. E eu, que sou uma europeísta convicta, ainda que cada vez mais desanimada perante o projecto europeu, sinto uma enorme alegria em ver um país como a Croácia a entrar para a União. Desde a Independência do país, que ocorreu há 20 anos, que a Croácia conheceu um período de profundas reformas políticas, económicas e sociais. Foi um longo caminho, de um sistema autoritário e não democrático até à democracia plena, num país forçado em simultâneo a lutar pela sobrevivência e pela integridade física. Por tudo isto, enquanto portuguesa e europeia, hoje sinto-me muito feliz. Vejo um país, que teve a capacidade de se reconstruir no pós-guerra e que garantiu o início de um processo de reconciliação com a Europa. Uma reconciliação e estabilização regionais que têm sido as prioridades da União. Assim, e 20 anos após um divórcio violento, os novos Estados dos Balcãs surgidos na década de 1990 optaram por trilhar um percurso idêntico e em direcção a um objectivo comum, um objectivo europeu. Por isso mesmo, aqui deixo as minhas boas-vindas à Croácia a este projecto europeu que, acredito, ainda pode nascer das cinzas.


*Crónica de 1 de Julho na Antena Livre, 89.7, Abrantes.

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