O perigo de confundir os ramos com árvore.



Hoje vou falar de um tema que costuma ser alvo de crítica, na minha opinião falsa, sempre que a imprensa resolve dar-lhe importância. E trata-se, nada mais nada menos, das elevadas pensões de reforma de alguns funcionários públicos, quando as mesmas são tornadas públicas. O último caso é o de Noronha Nascimento, antigo Presidente do Supremo Tribunal de Justiça, que abandonou o cargo em Junho passado, e que a partir de Setembro passa a receber uma reforma no valor de 5500 euros por mês. É, de facto, uma das pensões mais altas atribuídas entre os valores que constam na lista da Caixa Geral de Aposentações. Noronha Nascimento esteve à frente do Supremo desde 2006 e é também juiz jubilado atingindo, desta forma, um dos topos de carreira, e, desde logo, recompensados de acordo com as tabelas do mesmo regime. Nestes casos, vejo sempre grandes críticas aos valores de pensão, e agora, que vivemos na Era das redes sociais, pior ainda. É ver destilar ódios, invejas e argumentos incoerentes só pela maledicência pura. É pornográfico, perante outros valores de reforma e perante o cenário de crise e drama social que vivemos? É. Contudo, é injusto ver na sociedade actual críticas descabidas e cujos destinatários, por vezes, são injustiçados de forma gratuita. E é pena. Porque da mesma lista onde Noronha Nascimento está incluído, há sim outro caso mais chocante. O de um telefonista do Ministério dos Negócios Estrangeiros que recebe também a partir de Setembro, uma reforma de 2500 euros. É o terceiro valor mais alto que será pago entre os sete novos reformados do MNE, e só abaixo de um embaixador. Um telefonista que irá auferir, por exemplo, uma reforma superior à de uma professora do Instituto Camões, com 1021 euros. O MNE defende o ilustre telefonista, argumentando que este era funcionário no consulado de Maputo, em Moçambique, e que atingiu o limite de idade. Coisas chatas estas de limites de idade de reforma.Era bom que quando se criticam as reformas das pessoas, se criticasse mesmo aquelas que são fruto de cunhas de uma vida, de ascensões incompreensíveis e resultantes da teia de interesses do Estado. É que a árvore é uma coisa, mas os ramos dessa mesma árvore, como em tudo na vida, há os saudáveis e há os podres. Errar o alvo é o maior perigo que se pode cometer nesta sociedade já por si só injusta.



*Crónica semanal na Rádio Antena Livre, 89.7, Abrantes, de 19 de Agosto.


Comentários

Mensagens populares