Por este Rio acima [ou abaixo].



Rui Rio andou nas bocas do país há duas semanas depois da entrevista que deu à RTP. Pelo menos nas bocas do País que ainda tem paciência para a política. Na semana passada, o ainda presidente da Câmara do Porto resolveu falar de novo, desta vez, à revista Visão. Em ambas as entrevistas Rui Rio não desfaz a imagem que muitas pessoas têm dele. Mas dilui, ao mesmo tempo, a esperança que muitos ainda têm quando pensam nele a dirigir os destinos do país. Goste-se ou não, Rio representa, pelo menos até à data, o ideal de autarca-modelo. Apesar de não transportar em si a perfeição, o homem que muitos desejaram ser o D. Sebastião do PSD é o símbolo de uma força maior no epicentro do poder local. Sem papas na língua, o autarca tem a mesma facilidade em criticar como de elogiar, se preciso for, no momento seguinte. Das polémicas com Luís Filipe Menezes, à arrogância da ministra das Finanças, passando pela podridão do regime e acabando nos elogios ao colega de Lisboa, António Costa, Rui Rio assume-se tal como é nestas duas entrevistas. Nunca escondi que acredito que Rio é o último dos bons que resta neste regime amorfo, podre e onde dominam os interesses do compadrio e da corrupção. Sempre achei que Rui Rio, se assim o quisesse, daria um excelente líder em qualquer cargo de responsabilidade política neste país. Mas o edil portuense sabe que está bem acima da teia de interesses que movem as campanhas partidárias, sabe que não esconde ódios nem engole sapos dentro do próprio partido. E agora, na hora da despedida da Câmara do Porto, continua a mostrar como se faz para se manter distante do dinheiro fácil. Ainda assim lá vai dizendo que «numa situação de emergência nacional, não jogaria a credibilidade ao lixo e um património que muito preza numa atitude em fuga». O problema é que o momento de emergência nacional há muito que chegou e Rio nunca se chegou à frente. Talvez por isso esta seja a maior desilusão dos que acham que, com ele, o País seria mais respirável. Seja qual for o rumo de Rio, que lá vai dizendo que quer voltar a ser economista, a verdade é seu tempo passou. E tal como outros antes de si, deixou-o passar,  agarrando-se a convicções pessoais fortes, acima dos interesses partidários, mas abaixo, muito abaixo, dos interesses nacionais. Estamos a menos de dois meses das autárquicas. Depois de 29 de Setembro, Rui Rio não vai andar por aí, ao contrário de Santana Lopes. Nisso acredito eu. Tal como sei que, infelizmente, se encerra com Rio o ciclo dos homens raros na política nacional. Muito provavelmente serão necessárias quatro ou cinco gerações para voltarmos a ter quadros competentes neste país que continua cada vez mais pobre, desigual e injusto. E isto, meus caros ouvintes, isto, é em boa parte, culpa dos senhores em quem votámos, nos créditos que demos de mão beijada sem sabermos sequer as suas motivações e os seus interesses.

*Crónica semanal de 12 de Agosto, Antena Livre, 89.7 ou em www.antenalivre.pt

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