Ideologias, fanatismos e as nossas vidas.



«[…] O problema é que o que hoje divide os líderes partidários não são os pequenos jogos de poder ou uma ou outra dissertação ideológica. Os que os divide são, literalmente, as nossas vidas. As últimas semanas foram exemplares. A forma extremada como foi assinalada a morte de António Borges foi, no mínimo, preocupante. Os textos equilibrados contaram-se pelos dedos de uma mão. O fanatismo acrítico andou à solta, refugiado na divergência ou no aplauso de uma forma primária, sem qualquer respeito pela capacidade que António Borges sempre manifestou em discutir ideias. Nem sequer falo do respeito a quem morreu, falo apenas do respeito pela verdade. E a verdade raramente se encontra toda num mundo só de defeitos ou só de virtudes. O mundo das trincheiras é maniqueísta. Poucos se dão ao trabalho de ler ou de tentar perceber um acórdão do Tribunal Constitucional. O que interessa é encontrar culpados. Ou é o Governo que pretende aplicar o nefasto neoliberalismo na pátria ou é o Tribunal que ameaça a democracia e o poder político. Interessa pouco perceber se há caminhos para a diminuição de funcionários públicos ou o que motiva o Governo, o que interessa é resumir tudo a vitórias ou derrotas […]». Ricardo Costa, Expresso, 7 de Setembro.Subscrevo palavra por palavra o Ricardo Costa. Quanto à morte de António Borges, consegui controlar-me e nunca me pronunciei sobre o que fui vendo nas redes sociais. Mas é lamentável que muitos fundamentalistas deste país tenham descido tão baixo. Os erros de António Borges estão à vista. Mas as virtudes também. Contudo, o que mais custa, além de não se admitir a inteligência do Homem - mesmo que ele não personifique as nossas ideias - é mesmo o facto de não se respeitar a morte em si. E isso muitos não o fizeram. Ficará para memória futura.

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