Autárquicas 2013. Um País que virou rosa no dia em que a independência criou raízes.



Numas eleições autárquicas marcadas por uma estranha nuvem comandada pela Troika, também estranhos foram alguns resultados da noite eleitoral de ontem. Além dos claros vencedores esperados, portadores do símbolo partidário, há um conjunto de independentes que merecem destaque nesta crónica toda ela dedicada às autárquicas de 2013. Primeiro porque conseguiram fazer o que há muito se anunciava: destacarem-se no manto laranja e rosa que pinta o mapa nacional há mais de 30 anos. O rosto dos independentes que mostrou nestas eleições que vale a pena tentar mudar o discurso partidário chama-se Rui Moreira, que ganhou a Câmara do Porto de forma clara, ainda que com o apoio do CDS. Rui Moreira goza de grande credibilidade nacional, e, acima de tudo, na segunda maior cidade do país, mostrou que a seriedade vale votos. Seja como for, resta saber se ontem foi o primeiro dia de uma carreira nacional que está reservada a Rui Moreira. De resto, e apesar de as candidaturas independentes terem todas elas motivações diferentes, todas elas assentam num ponto comum: um discurso anti-partidos que arranca votos como cogumelos. Foi tão somente este factor que neste momento fez a diferença, sobretudo depois de os partidos e as clientelas terem cansado tremendamente o eleitorado. Da noite de ontem os restantes vencedores e vencidos estão mais do que identificados: António Costa esmagou em Lisboa e Rui Moreira como dissemos sucede a Rui Rio à frente da Câmara do Porto. Já os grandes derrotados da noite foram Fernando Seara em Lisboa e Luís Filipe Menezes no Porto. O Bloco de Esquerda, noutra dimensão, também se saiu muito mal: perdeu a única câmara que liderava em Salvaterra de Magos. Nos partidos mais pequenos há um registo notório a assinalar. O CDS ganhou terreno local. Além de manter a presidência da autarquia de Ponte de Lima, ganhou as de Albergaria-a-Velha, Vale de Cambra, Velas e Santana. Se juntarmos a isto a vitória de Rui Moreira, pode até dizer-se que ao contrário de Pedro Passos Coelho, Paulo Portas adormeceu bem feliz na noite passada. Já a CDU também teve boas razões para sorrir este domingo. Recuperou duas capitais de distrito – Beja e Évora – e mantinha, até ao final da noite, de ontem muitos outros municípios onde o eleitorado da foice e do martelo não falha. Nos resultados nacionais, o mapa mudou de laranja para cor-de-rosa, uma alternância comum que se tem registado no país há mais de 30 anos. Seja como for há ilacções nacionais a retirar e claramente a batalha deste domingo foi ganha por António José Seguro que cilindrou Passos Coelho de norte a Sul.
A abstenção continua no ritmo terrível do costume, sendo que a cada acto eleitoral, lá sobe mais uns pontos. 47% é muito e representa bem o fosso criado entre eleitores e eleitos.Uma nota final para Abrantes, onde a Maria do Céu Albuquerque renovou o mandato à frente dos destinos da cidade. O PS mantém-se firme por cá tendo alcançado ontem 47% dos votos. Um resultado que surpreende apenas por ter superado o resultado de 2009. Parabéns a Maria do Céu Albuquerque e muita sorte para os próximos quatro anos. Seja como for, o país autárquico foi a votos. Cumpriu-se a democracia. Falta agora cumprir o mais difícil: a verdade e as promessas que mais uma vez nos fizeram. Tudo isto nas eleições autárquicas mais estranhas de sempre, marcadas por uma frieza anormal e por uma contenção emocional dos candidatos fora do comum.

*Crónica semanal de 30 de Setembro, Rádio Antena Livre, 89.7, Abrantes.

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