Gaspar. Parte I.

Comprei o livro da Maria João Avillez há três semanas. Bem sei que não tenho muito tempo para ler, mas pelo menos uma hora do meu dia é dedicada literalmente à leitura. E custa-me ler por aí muitas opiniões superficiais sobre as leituras da obra sobre Gaspar. Vou na página 220. Estou, como sempre, a ler paulatinamente. E, apesar de ser uma defensora ideológica dos valores sociais, do Estado enquanto protector social, sou também, ao mesmo tempo, uma louca pela economia, pela economia dos conceitos e pensamentos económicos. É este o lado que me interessa neste livro. Porque não podemos defender a parte social sem sustentabilidade de modelos económicos. Por mais que nos custe. Não há bem-estar social sem economia sã. E isso é o mais difícil de aceitar e debater nestes tempos de crise económica. O que tinha curiosidade era descobrir mais um pouco de Gaspar do ponto de vista económico, no fundo, na perspectiva da economia política. E custa-me perceber que muita gente por aí diz que leu mas, na verdade, não leu. Foi preciso ler 200 páginas [vou a meio] para começar a compreender a génese do pensamento de Gaspar do ponto de vista da Europa. Sim, falamos de um europeísta, ao contrário do que se possa pensar [não, Gaspar não é um federalista...]. E apetece-me partilhar algumas partes interessantes do que já li até agora. Para memória futura. Minha, claro, que eu é que sou uma parva, que adoro discutir Adam Smith, Marx, Engels ou Schumpeter, só para citar os que mais me marcaram desde os tempos da Faculdade. E sabem o que é mais espantoso? Ficamos a conhecer um outro Gaspar. Claro nas ideias, apelativo no pensamento e inteligente na forma de expressão. Um outro ser, oposto à figura que ficou enquanto ministro das Finanças. Um verdadeiro choque. Partilha n.º 1 segue abaixo: Página 213, 'Vítor Gaspar', de Maria João Avillez [2014]:
«...essa história não tem particular relevância [PEC IV]. O PEC IV é um incidente ou um acidente político, mas as crises não são caracterizadas por eles. Já conversamos sobre o fundamental para percerber a génese da crise. Portugal não se adaptou às exigências do euro. Quer o sector privado, quer o público recorreram ao endividamento para financiar consumo e, em muitos casos, investimento pouco produtivo. A facilidade de acesso ao financiamento mascarou a necessidade de escolhas claras sobre o âmbito e a forma da intervenção pública. Caracterizei em tempos esse problema como o do desvio entre o que os portugueses exigem do Estado e o que estão dispostos a pagar para o financiar. A esta vulnerabilidade estrutural juntou-se a falta de prudência na condução da política orçamental em 2009. Ocorrendo, assim, uma vulnerabilidade específica, de curto prazo, no exacto momento em que a crise das dívidas soberanas na zona euro se aproximava do seu momento mais grave...».

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