Momento «Em nome de ti, ALA», dia 132.


Momento «Em nome de ti, ALA», dia 132:
 
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O meu avô paterno era monárquico, fascista, salazarista e era a pessoa mais tolerante, mais aberta e extraordinária. Foi o homem de quem eu mais gostei. Morreu quando eu tinha 18 anos e tenho muitas saudades dele. Era tropa de cavalaria, vivia apavorado que eu fosse maricas, porque escrevia coisas, o que era, para ele, uma coisa inconcebível. Chamava-se António Lobo Antunes, tal como eu, o meu nome todo. O avô dele passava fome na Póvoa do Lanhoso e o pai meteu-o, com 12 anos, num barco para o Brasil, num veleiro, por isso, veja as minhas origens: o primeiro Lobo Antunes, cujo pai era o tal Antunes que foi no veleiro e a mãe era uma senhora do Brasil que se chamava Lobo, que era evidentemente judia... O meu avô devia ser duro, porque era muito corajoso, muito forte fisicamente, mas nunca o vi ser violento. Não era muito inteligente, mas tinha uma grande bondade e generosidade. Dava-me beijos na rua e eu tinha imensa vergonha. Imagine a estupidez, um miúdo de 13 anos a ser beijado pelo avô, com medo de julgarem que éramos dois maricas. Fazia-me festas. Chegavam as férias e ia para casa dele, e, à noite, na cama, ia-me dar um beijo e levava-me bolachas e água... Mas, ao mesmo tempo, queria que aprendesse a disparar uma espingarda horrível e eu tinha um medo... tinha medo de tudo...». 

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