Momento «Em nome de ti, ALA», dia 310.

 
Momento «Em nome de ti, ALA», dia 310: «Há alturas em que um homem tem que se aguentar à bronca e não dar de frosque. Ficar ali. Plantado. Claro que, nas tempestades, somos fortes que nem caniços mas, depois de se dobrarem, os caniços endireitam-se outra vez. Não procuram abébias: estão. Eu a almoçar na esplanadazita do restaurante e a pensar nisso. Não tinha apetite, esforçava-me para comer, ia empurrando o arroz com a cerveja. Passou por mim o maluquinho do bairro, passaram duas raparigas cujo projecto era serem bonitas e eram quase, o que estragava tudo era o projecto de serem bonitas e bem arranjadas, relógios que elas julgavam parecer caros e não eram, pulseiras de todo o género, também com desejo de parecerem caras, vestidos curtos e justos cuja maior qualidade não estava no tecido, estava nas pernas delas, sapatos de salto agulha em que, para andar neles, se tornava necessário possuir uma vocação de pássaro que elas não tinham. Mas o seu projecto de serem bonitas comoveu-me. Ficaram por ali um bocado no passeio, a conversarem, aborrecidas por os homens repararem menos nelas do que desejavam, até que lá se foram embora com o seu sonho: um marido doutor, um jipe, uma casa de férias, em lugar de dias atrás de um balcão a atender clientes nos correios. Dissolveram-se na esquina, comigo a desejar que um doutor ou um jipe reparassem mas os doutores não abundam por aqui (...)».

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