Festas socialistas, judiciais e mediáticas.



Este fim-de-semana, a família socialista reuniu-se em Lisboa, num congresso que consagrou António Costa como secretário-geral do PS. Quis o destino, ou talvez não, que precisamente uma semana antes o PS assistisse, perplexo, à detenção de um dos mais marcantes líderes da sua História. Falo obviamente de José Sócrates. Um caso que deixou os socialistas em estado de choque, como o próprio António Costa disse no discurso de abertura da reunião magna. Sentimentos, Justiça e opiniões à parte, o actual presidente da Câmara de Lisboa tem pela frente um caminho mais difícil do que esperava quando venceu as directas há dois meses contra António José Seguro. Com os acontecimentos mais do que tristes em torno da prisão preventiva de José Sócrates, António Costa tem agora de vincar ainda mais os desígnios do PS, as reformas alternativas à actual maioria, e convencer os portugueses de que é possível acreditar num projecto que inverta o empobrecimento em que o País caiu desde 2011. Não será fácil, sobretudo quando hoje os desafios da governação são mais difíceis do que noutros tempos. Com a intervenção externa, o País e os seus governos terão, daqui em diante, dificuldades e constrangimentos pautados pelo peso de um empréstimo que terá de ser pago e por uma forma de governar menos livre. Será neste ponto que a direita irá apostar e, independentemente do que venha a acontecer, uma coisa será certa: Pedro Passos Coelho e companhia irão tentar colar o PS à governação que levou o país à pré-bancarrota. Esse tempo tem um nome: chama-se José Sócrates. Sobre o antigo primeiro-ministro, que se encontra a cumprir prisão preventiva no estabelecimento prisional de Évora, pouco ou nada há a dizer. O triste espectáculo que a comunicação social tem mostrado é revelador do país que somos. Miguel Sousa Tavares resume no semanário Expresso deste sábado aquilo que penso sobre o assunto e que se resume a isto: «ninguém, absolutamente ninguém de boa-fé, pode dizer neste momento se José Sócrates é culpado ou inocente das gravíssimas acusações de que foi alvo». Há momentos em que o silêncio se impõe. Este é o momento. Seja como for, o julgamento popular, esse, está feito. Que a Justiça cumpra, até ao fim, a sua missão. Uma missão que terá de ser absolutamente inquestionável, para o bem e para o mal. Veremos até onde e durante quanto tempo o país aguentará tantas festas judiciais e mediáticas.

Crónica de 1 de Dezembro, na Antena Livre, 89,7, Abrantes. OUVIR AQUI.

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