TAP. O tiro no pé de Pires de Lima.

Foto: Ricardo Rodrigues.

A privatização da TAP tem sido motivo de discórdia desde que o actual Governo encetou caminho rumo à venda da companhia aérea nacional. Nos últimos anos, a guerra entre sindicatos e tutela, tem sido um verdadeiro Inferno, onde as chamas têm chamuscado os dois lados da barricada. Na última semana, o dossier TAP colocou a nu as fragilidades do ministro que abraçou a causa como se de um filho se tratasse. Falo, obviamente, de António Pires de Lima, o gestor imaculado para a comunicação social, um dos homens de confiança de Paulo Portas e um homem que vende a imagem do empreendedor de sucesso. Pois bem, tudo isto, caiu por terra na última semana. Na passada quinta-feira foi aprovado em Conselho de Ministros o caderno de encargos da anunciada privatização. Crescimento e desenvolvimento foram as duas palavras mais usadas por Pires de Lima nas várias entrevistas que foi dando ao longo dos últimos dias para justificar a privatização. Em todas as declarações à imprensa, o ministro da Economia recusou-se a dar um valor mínimo pelo qual o Governo está disposto a vender a companhia aérea portuguesa. Lá foi dizendo o óbvio, que a TAP só será vendida pelo somatório da sua dívida actual, e que ronda os mil milhões de euros. Mas o tiro no pé é dado com a questão dos despedimentos. Pires de Lima e o seu secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, garantiram sempre que o caderno de encargos só continha protecções laborais para os trabalhadores afectos aos nove sindicatos que negociaram com o Governo. Os restantes três, que disseram «não», ficariam desprotegidos. Uma garantia que, à partida, qualquer um adivinharia ser inconstitucional. A intenção, sabemos hoje, só tem uma explicação: mera vingança por parte da tutela em relação aos que não assinaram o acordo e não concordaram com ele. Foi Passos Coelho que teve de pôr a casa na ordem na sexta-feira, no debate quinzenal, no Parlamento, assegurando que não havia discriminação, e que quem comprar a TAP não pode despedir nenhum trabalhador por um período de 30 meses. O episódio serve para, mais uma vez, mostrar um certo ódio que, volta e meia, se avista desta maioria. Em Portugal não pode haver trabalhadores de primeira nem de segunda, consoante os gostos de quem nos governa. O tiro no pé de Pires de Lima revela, também, a intenção ideológica e partidária que lavra nos sectores mais liberais deste país. E são estes perigos que os cidadãos têm de saber que correm. Na hora do voto, é a consciência informada que tem de contar.

*Crónica 19 de Janeiro na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR

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