A coragem chega do Sul e não, não vem de Portugal.

Depois de uma semana em ronda europeia, o novo Governo da Grécia começa a perceber que renegociar a dívida não é assim tão simples. O facto não terá sido surpresa para o primeiro-ministro e ministro das Finanças gregos, já que as negociações como os parceiros europeus, nomeadamente com a Alemanha, anteviam-se duras. Uma coisa já sabíamos antes de este teste grego começar: o executivo grego não vai poder cumprir todas as promessas no primeiro ano de governação. Por isso mesmo Tsipras pediu tempo, tempo para que obter um compromisso com Bruxelas, na reunião extraordinária do Eurogrupo marcada para esta semana. O programa de ajuda externa à Grécia termina no final do mês e, até lá, tem de ser encontrada uma solução para que o país não entre em falência. O Syriza apresentou-se a eleições com a promessa de reduzir a dívida grega e acabar com a austeridade imposta pela 'troika'. Uma estratégia que pode ter um fim mais infeliz que esperançoso. Primeiro porque, tal como em Portugal, a reestruturação da dívida pública, de forma abrupta como propõe o novo Governo de Atenas, é impossível de alcançar. Uma coisa é a vontade ideológica, outra é a realidade da débil economia helénica. O próprio Banco Central Europeu já atirou a primeira pedra de retaliação, recusando aceitar títulos da dívida de Atenas como garantia dos empréstimos bancários. E algo que o Syriza já percebeu é que a falta de liquidez é uma triste realidade que está ao bater da porta. Daí à paralisação económica será um passo. E ao barril de pólvora social também. Uma coisa é certa: a Grécia foi o primeiro país do sul a ter coragem de enfrentar as vozes da austeridade europeia, sobretudo a de Ângela Merkel. Conseguiu, para já, dividir parte da Europa com os fantasmas do perdão da dívida alemã no rescaldo da II Guerra Mundial a regressarem à mesa das memórias. Se eles no passado puderam, porque não podemos nós agora, pensam os líderes da esquerda mais radical que se vai levantando, de mansinho, por toda a Europa. Esta semana, o Governo grego sabe que terá de suavizar as propostas na reunião do Eurogrupo. No fundo ninguém em Atenas quer a saída do Euro, porque isso seria um mal ainda maior do que o actual. Ainda assim, os gregos são as cobaias de todos os outros movimentos de extrema esquerda que têm surgido, seja em Espanha, em Itália e até mesmo em Portugal. O sucesso ou insucesso das suas conquistas será o rastilho da desgraça ou o impulso da corrente criada. O povo, parece estar com, eles, para o bem ou para o mal. Mas sabemos todos como o povo também muda de postura, quando as coisas dão para o torto. Veremos até onde conseguirá esta nova Grécia levar esta Europa de austeridade dominante.

*Crónica de 9 de Fevereiro, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR

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