Sacos de plásticos. A mudança cultural ou a demagogia do Estado falido.



Desde ontem, 15 de Fevereiro, que sempre que se deslocar ao supermercado, ao talho ou a qualquer outro estabelecimento comercial, se quiser um saco de plástico para transportar as compras, terá de pagar 10 cêntimos por cada unidade. A medida, já prevista no âmbito da reforma da Fiscalidade Verde, pretende incentivar a mobilidade sustentável e a poupança e sensibilizar para a utilização de sacos reutilizáveis, num País em que cada português utiliza, por ano, 466 sacos de plástico leves. Contudo, esta contribuição ambiental tem gerado imensa polémica, sobretudo por parte dos comerciantes, que estão agora a braços com enormes quantidades de stocks de sacos e sem possibilidade de pagar o imposto inerente para recolocá-los no circuito comercial. Num ponto, os empresários têm razão: a tutela tem obrigação de encontrar vias que ajudem as empresas a resolver este problema e que irá certamente provocar muitos prejuízos financeiros a milhares de empresas. Não se pode simplesmente mudar a lei por decreto, sem preparar, no terreno, medidas que minimizem as suas consequências. Ainda assim, e apesar de esta ser uma medida que irá rasgar mais do ponto de vista cultural que financeiro, e além de os cofres do Estado agradecerem, a verdade é que a partir de agora o cenário serão sacos reutilizáveis. Campanhas de sensibilização precisam-se e esta é uma lacuna que o poder político descurou. Não basta deixar os alertas nos discursos em papel e cujas frases são mel para os nossos ouvidos. Sabemos todos que as mudanças mais difíceis são as culturais. Basta recuarmos uns anos e recordar como começaram as campanhas de reciclagem. Hoje somos um dos países que venceu a luta da sensibilização para a separação do lixo. E, acredito, o mesmo acabará por acontecer com os sacos. Primeiro estranha-se. Depois entranha-se. E no fim sabemos que estamos a contribuir para um mundo mais verde. Segundo as contas do Ministério do Ambiente, serão obtidos 167 milhões de euros com a Fiscalidade Verde, a maior parte dos quais (150 milhões) a canalizar para o alívio do IRS das famílias, enquanto os restantes 17 milhões de euros se destinam ao fundo de conservação da natureza e a incentivar a mobilidade sustentável. Resta também saber se as promessas serão cumpridas. E este é o ponto mais sensível desta reforma. Só acreditamos depois de vermos. 

*Crónica de 16 de Fevereiro na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR. 

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