A dignidade de dois homens bons.


O Repórter TVI trouxe hoje ao Jornal das Oito uma reportagem que nos desnuda a alma, que nos fere o coração e que nos faz sentir despidos de tudo. A história de dois sem-abrigo, amigos, fiéis companheiros, que vivem e partilham as suas vidas, ou o que resta delas, debaixo de uma ponte. Ver. Olhar. Sentir. Tudo o que ali foi mostrado, dito e vincado, dói. Dói terrivelmente. Como jornalista é aterrador contar a estória. Porque nos envolvemos. Porque somos de carne e osso. Porque simplesmente nos damos, recebendo dos outros o melhor que têm para dar. Ao mesmo tempo que via  a reportagem da Catarina Canelas, recuava no tempo. Revivia os rostos e as estórias de tantos seres iguais, que vivem nas mesmas circunstâncias, nas mesmas dores e solidão, e que conheci ao longo dos últimos anos. Chorei. Revoltei-me. Lembrei-me do vazio de alma que ali habita. Mas ao mesmo tempo sei que a dignidade não tem cor, não se faz com bens materiais, do que vestimos nem do que possuímos, e muito menos pela riqueza ou pela pobreza. A dignidade humana vem de muito mais longe, do mais profundo que somos, e da essência inata que nos caracteriza. Debaixo daquela ponte há estômagos vazios, pouco conforto, ratazanas como companhia, faça chuva ou sol. Mas debaixo daquela ponte há uma amizade, há partilha, bondade e o mais profundo estado de alma de dois seres bons, por natureza. Um grande trabalho jornalístico, simples e complexo, e cuja dimensão ao nível da qualidade, é proporcional à penosa realidade destes dois homens. Porque a dignidade de um Homem não se mede por nada, a não ser por aquilo que somos. Como diria um velho professor deste país que conheci há muitos anos, «somos quem somos», e devemos orgulhar-nos de tudo o que isso representa. Porque vergonha não é viver na rua. Vergonha não é assumir que fizemos escolhas erradas na vida. Vergonha é proceder mal. Vergonha é fazer mal ao próximo. Vergonha é ser aquilo que não se é. E a tudo isto chama-se DIGNIDADE.

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