Moral e etica republicanas pelo cano abaixo.

O caso Passos Coelho versus Segurança Social já não bastava ser de tão mau tom, para vir ainda juntar-se-lhe mais o peso do Fisco. Além dos descontos a que estava obrigado entre 1999 e 2004, o primeiro-ministro esqueceu-se ainda de umas declarações de IRS. Coisa pouca, para quem exerce o cargo de primeiro-ministro. O caso começa a cheirar mal de tanto que a imprensa esgravata. Contudo, a juntar à desastrosa forma com que o gabinete de Passos geriu o caso, o presidente da República resolveu falar. O mesmo chefe de Estado que tem passado este segundo mandato em silêncios perturbadores. Na verdade Cavaco, que já fala pouco, enforca-se ainda mais no próprio discurso. Basta recordar que nos últimos meses, não falou da crise grega, não aborda os maus resultados da política económica do Governo, não disse uma única palavra sequer sobre o caso José Sócrates. Por mais elegante que queira ser, o presidente consegue apenas falar para, com discursos demagógicos, limpar a pele da maioria PSD-CDS, como se prova com as declarações sobre as situações contributiva e fiscal de Passos. É verdade sim senhor que um Presidente de bom senso, como disse Cavaco, não deve entrar em lutas político-partidárias. Tal como um presidente de bom senso não pode, a seguir, dizer o contrário, mais coisa menos coisa que Passos Coelho «deu as explicações que entendia dever dar». O assunto começa a ser requentado e a ética e as conclusões do caso já estão retiradas pelos cidadãos. Nem presidente nem chefe de Governo ficaram com a moral e a tal ética republicana intactas. Mas esta semana não podia deixar de registar que, em ano de legislativas e a um ano de presidenciais, os buracos negros, como já é tradicional na imprensa nacional, começam a ser destapados. Uma coisa é certa: tal como disse Passos Coelho, em jeito de indirecta, quando José Sócrates foi enviado para Évora, os políticos não são todos iguais. É verdade sr. Primeiro-Ministro, os políticos não são todos iguais, mas o seu exemplo não deixa de ser diferente, em termos de seriedade, do de Sócrates. E disso o senhor pode ficar certo que não é diferente do seu antecessor. Na verdade, na última década, criámos vazios de poder nas escolhas que fazemos nas urnas. A qualidade da classe política piorou, como sabemos, ao nível da gestão da res publica e da ética. O mais assustador é que morreram todos com o enterro das ideologias no início deste século. E somos nós, as cobaias do vazio de poder, que não sabemos quando e como iremos ao fundo com o naufrágio do Regime. Uma coisa é mais que certa: assim não vamos lá.

*Crónica de 9 de Março, Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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