VAI e VEM. E no caminho podes definhar.



No final da semana passada, quando assisto na televisão, ao anúncio do secretário de Estado Pedro Lomba sobre o novo plano do Governo paras as Migrações, fiquei em choque. Eu, e provavelmente milhões de portugueses. O Executivo decide, em ano de legislativas, lançar o programa VEM, cuja sigla corresponde a Valorização do Empreendedorismo Emigrante. A iniciativa, explicava o secretário de Estado, pretende apelar ao regresso dos emigrantes que partiram nos últimos anos para fora do país em busca da dignidade profissional que por cá lhes negaram. Insisto. Fiquei em choque. Porque depois do que Pedro Passos Coelho e muitos outros governantes do seu Governo fizeram no passado recente, é inacreditável que o ímpeto eleitoralista não tenha vergonha nem limites. Desde o Primeiro-ministro a secretários de Estado, foram vários os governantes que, no espaço de três anos, exortaram os portugueses a emigrar, gritaram vezes sem conta que a emigração não podia ser um estigma que, se não havia emprego em Portugal, então havia que procurar trabalho lá fora. Para já não falar da tirada deplorável do secretário de Estado do Desporto e da Juventude, Alexandre Mestre, que em Outubro de 2013 lembrava que era necessário sair da «zona de conforto e ir para além das nossas fronteiras». Provavelmente esta personagem nunca saberá o real drama que é sair da tal «zona de conforto». Nas estatísticas aponta-se para meio milhão de portugueses que fizeram as malas e dolorosamente partiram desde 2008. Muitos deles foram obrigados a partir devido às tristes condições económicas existentes em Portugal, fruto da crise e das medidas austeras implementadas pela Troika e executadas, de forma submissa, pelo Governo de Passos Coelho. Se não fosse para chorar podia ser uma piada de muito mau gosto. A falta de vergonha política e eleitoralista continuam a existir e pior: são ainda mais requintadas. Mas o povo, ao contrário do que esta gente pensa, não é burro e não tem a memória curta. Um dia a factura chegará e a monstruosidade que fizeram a este país nos últimos três anos tem um preço. Uma coisa é limpar um Estado gordo que sempre viveu acima das suas possibilidades. Outra, completamente diferente é aniquilar pessoas, gente, de carne e osso, que não contribuíram em nada para o estado calamitoso a que nos conduziram. A factura há-de chegar. É apenas e só uma questão de tempo.



*Crónica de 16 de Março, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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