Jornalismo. Ódios. «Somos quem somos».



Assisti, com alguma incredulidade, à polémica que antecedeu o programa “Prós e Contras” desta segunda-feira, a propósito do tema escolhido, alterado posteriormente. Questões políticas à parte (que também foram um mimo), foi doloroso ver o ponto a que chegaram colegas de profissão, com carteira profissional, e que usam o protagonismo e o ódio, para tentar destruir, em segundos, a carreira dos seus pares. Há muito que me afastei de vários meandros jornalísticos e de muitos colegas. Por razões diferentes, mas sobretudo, porque não foi esse o caminho que me ensinaram nem o rumo que quero para a profissão que exerço. Falo de Miguel Sousa Tavares e do diretor do Correio da Manhã, Octávio Ribeiro. Escuso-me a relatar o que Octávio Ribeiro fez, em direto, ao Miguel. A sacanice está aí, online. As opiniões que cada um de nós tem do CM, do DN, do Público ou da TSF, só para citar alguns meios, a nós nos pertence por direito. E Miguel Sousa Tavares (que não é nenhum santo e tantas vezes se excede) disse, em liberdade, o que pensava, sem nunca atacar a carreira profissional de ninguém. Que o CM não faz jornalismo? Não, não faz, «vende jornais» e, «muito bem», como disse o Miguel. Octávio Ribeiro tinha todo o direito a defender o seu jornal, a sua TV, e os seus jornalistas, mas perdeu a razão toda dos seus argumentos, a partir do momento em que ataca o percurso de um antigo colega de profissão. Talvez o maior problema desta classe seja mesmo o caráter jornalístico e a ética (ou a falta dela) de muitos a quem facultam um título profissional. Mais até do que o famigerado problema do desemprego e da falta de investimento no setor. Do tema, «a independência da justiça», pouco o nada se falou, fazendo deste programa cada vez mais uma das maiores tristes opções despesistas do canal público. Os ódios que lavram na classe de que faço parte fazem-me mal. Há muito tempo. E não consigo viver nem com eles nem no meio deles. Prefiro dedicar-me a outra atividade. E jamais quero transformar-me naquilo que por aí corrói, há muitos anos, o caminho da união de classe. Somos muitos, demasiados. Mas não precisamos de desrespeitar os outros para mostrarmos que somos melhores. Se formos bons, o nosso trabalho fará justiça ao que somos. E, de facto, «somos quem somos».  

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