Bloco Central de responsabilidade? Cavaco sonha mas Costa não nasce.
«Vejo o diálogo com a coligação. Com a esquerda não vejo capacidade
nenhuma». A frase é de Vera Jardim, socialista incontestável e serve como injeção
à comunicação de um Presidente (finalmente) firme, como há muito não tínhamos.
Cavaco fez um segundo mandato ausente, sem chama nem glória. Bem sei que a
margem de atuação era reduzida – com ele ou outro no seu lugar – mas há momentos e
circunstâncias em que um Presidente tem de se impor e afirmar. Cavaco não
existiu nessa matéria e num momento tão urgente e imperativo em que o país assim o exigia: o das
dificuldades e austeridade. Contudo, hoje, jamais me passaria pela cabeça que
Cavaco sugerisse um Governo de Bloco Central. Achei sempre que iria entregar,
de mão beijada, o poder a quem venceu as eleições de domingo. Obviamente que António
Costa não se sujeitará a duas ou três pastas viabilizando, assim, um Governo de
maioria parlamentar às mãos do centro-direita. O PS é o maior partido da oposição. É um dos maiores
partidos portugueses, e símbolo da génese da democracia neste país. Eu,
enquanto cidadã, eleitora e portuguesa, gostava que o meu país se unisse em
prol de questões de regime, de áreas essenciais para as nossas vidas a longo
prazo, e colocasse de lado as querelas partidárias. Mas sei que isso é
totalmente impossível. Por várias razões, mas essencialmente, porque tal cenário não está
na génese do nosso sistema político-partidário, que é monopartidário. Exceção feita à direita, a única que se
tem esforçado, em momentos específicos da história recente nacional, para se
coligar, somos um país que, a nível partidário, não fez escola nessa matéria.
No caso de Costa, e sem saber o que proporá Passos ao secretário-geral do PS,
terá toda a legitimidade para recusar o consenso, como pediu Cavaco. Ainda que,
saibamos todos, que se o PS tivesse governado nos últimos quatro anos, teria feito
95% do que o centro-direita fez. Disso não tenho a menor dúvida. Perante tudo
isto, que venha o Governo minoritário. Que venham as presidenciais. Que haja,
pelo menos Orçamento para nos governarem em 2016. E depois, bem, depois, que
alguma força divina meta juízo na cabeça do Centrão – esquerda e direita –
neste país. Precisamos de esperança e de alívio nas nossas vidas. E era bom que
a geração política atual percebesse que a austeridade também tem a obrigação de
mudar os seus comportamentos perante os votos de todos nós.
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