Qual ética? Qual res publica? Mentir é que está a dar.
Que os
políticos, mesmo em momentos difíceis para o país, são todos iguais, já o
sabíamos. O que continua a ser uma desfaçatez é a forma como usam a desgraça
financeira do país para caçar votos a todo e qualquer custo. Falamos esta
semana do verdadeiro embuste da coligação de direita que governa Portugal no
que respeita à suposta devolução da sobretaxa do IRS já em 2016. Diz Pedro
Passos Coelho que não houve da parte do Governo PSD/CDS-PP «qualquer intenção
de manipular os números» das previsões de devolução da sobretaxa. Em plena
campanha eleitoral Passos Coelho não teve medo dos números e prometia, à boca
cheia, que a redução podia vir a ser de 35%. Dois meses depois é agora de…zero, remetendo
para o Ministério das Finanças, explicações técnicas e detalhadas. As mentiras
da classe política, tão caras aos eleitores, evidenciam, nos atuais tempos, que
a ética já não é suficiente para vincar a vida pública. E nós, cidadãos,
sociedade civil, toleramos cada vez mais candidatos e discursos que não falam
verdade. É por estas e por todas as outras que os partidos políticos
portugueses parecem um queijo suíço no que respeita à podridão. Não falam
verdade, escondem números e apenas se importam com os
interesses das suas capelas e secretariados. À esquerda o cenário não é melhor.
A suposta união de vontades e consensos, temo muito, está presa por um fio. Primeiro,
pela falta de transparência sobre algumas matérias alegadamente acordadas. E,
em segundo lugar, pela fragilidade que tão famigerado acordo encerra, sem
sentar à mesma mesa PCP e Bloco de Esquerda, como anteriormente já neste espaço
o dissemos. Entretanto, em Belém, Cavaco Silva, não tem pressa, ao contrário de
Bruxelas, que não se cansa de pedir o Orçamento do país para 2016. Em janeiro
que vem há mais festa quando todos formos às urnas eleger o próximo Presidente
da República. E mais uma vez lá iremos votar num qualquer discurso fabricado,
que parece importar-se connosco, mas que no fundo quer apenas chegar à cadeira
do Palácio. Depois disso, o povo que se amanhe.
*Crónica de
23 de Novembro de 2015 na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR
Comentários