Liberdade e crise. Uma união dolorosa.
A
crise que atinge a comunicação social em Portugal não é de agora. À semelhança
de muitos outros setores, os problemas agudizaram-se com a crise económica que
o país vive, de forma mais dura, desde 2011. Contudo,
no que toca à comunicação social, os problemas arrastam-se há uma década, de
forma mais profunda. O setor, com jovens licenciados a saírem anualmente das
Universidades, vai engrossando fileiras de desempregados, de homens e mulheres
precários e sem capacidade de dar resposta ao ponto de saturação a que chegou. É
um facto, há muito provado, que a oferta é muito maior que a procura. E é outro
facto inquestionável que as vendas dos jornais caem a pique, ano após ano; as
rádios vão sobrevivendo como podem e, exceção feita às televisões, com
almofadas financeiras a empurra-las, só o online,
com o florescimento de projetos novos, vai conseguindo romper espaço. Vem
o tema a propósito com os dois últimos projetos a sofrerem as consequências da
falta de leitores, de eventuais estratégias erradas e de gestões menos
eficazes. Falo dos jornais Sol e I, cujo grupo económico que integravam, decidiu
não continuar a suportar ambos os projetos. Razão? Acabou-se o dinheiro. Resultado?
Despedimentos, cortes salariais, reduções brutais de condições laborais. A
morte de jornais neste país é-me cara. Em 12 anos de profissão estive na morte
de dois. A razão? É sempre a mesma. Insustentabilidade, queda nas vendas e
falta de investimento publicitário. Na
verdade, por mais que nos doa, quando não há dinheiro e se insiste em manter a
porta aberta, todos sabemos, que estamos apenas a adiar o problema. E só quando
o barco já está a afundar é que se tomam decisões. Dolorosas e tardias. Com
a globalização, as novas tecnologias e a rapidez com que se acede à informação,
o mundo tradicional dos jornais mudou. E em Portugal muitos perceberam esta
realidade muito tarde. E
só há um caminho: ou os jornais em papel encontram formas de financiamento
sustentável com uma política feroz de publicidade estruturada, ou então só têm
uma de duas opções: virarem-se para a internet, com custos de produção muito
menores, ou encerrarem portas. Os
problemas estão todos identificados. As soluções são possíveis. E o maior cego
é aquele que não quer ver. Estamos à espera de quê? Que vão morrendo jornais e
rádios num país que precisa de uma imprensa livre e saudável? Ontem, já era
muito tarde.
*Crónica de 7 de dezembro de 2015, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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