De Espinho chegam os longos e desatualizados discursos à Passos.
São
cada vez mais monótonos e cinzentos os congressos políticos em Portugal. No
espaço de um mês houve dois, precisamente dos partidos do centro direita, que
governaram o país nos últimos quatro anos e meio. Depois
do CDS, foi a vez de o PSD juntar a família laranja em Espinho. Antes
de me centrar no que ficou do conclave, quero, mais uma vez, alertar para a
forma como em 2016 ainda se preparam congressos em Portugal. Pedro
Passos Coelho ainda não percebeu que discursos de uma hora ou mais afastam os
cidadãos da mensagem política que pretende passar. É
um erro que o líder do PSD continua a cometer em congressos e que faz parte da
galeria dos encontros do século passado. É preciso mudar a forma e o conteúdo
como se comunica em Política. José Sócrates abriu o caminho no tempo em que
liderava o PS e mostrou como se faz no campo da arte de fazer política no
século XXI: cenários apelativos e dinâmicos, palcos rotativos, discursos
simples e diretos, sem demoras na mensagem a passar. O
congresso que no mês passado confirmou Assunção Cristas como líder do CDS
também é um bom exemplo no que respeita à imagem e conteúdo. Basta recordar o rasgo cénico em tons de azul que entrava pelos nossos
televisores. Monotonias
à parte, do Congresso pouco ou nada de novo chegou. Elogios,
conselhos, palavras de conforto, palmadinhas nas costas e muitas críticas ao
Governo. Assim podemos resumir os três dias que levaram a Espinho muitos
militantes ainda em trauma com o PS a governar. Maria
Luís Albuquerque entra como nova vice-presidente numa direção renovada apenas no
feminino, e onde as mulheres estão em maioria. Por
fim, dizer que no PSD de Passos Coelho, cujo teste mais próximo parece ser as
autárquicas, há neste momento uma anestesia total fruto da nova vida na
Oposição. Sabemos que o partido que mais dificuldades tem em lidar com o papel
de partido de oposição é precisamente o PSD. Sempre assim foi e mais uma vez
esse registo histórico volta a provar-se. Passos
começa a reagir, mas ao mesmo tempo, o partido receia que essa reação seja
branda demais. Mas Pedro, o líder, não tem muita margem já que defender quatro
anos de políticas alinhadas com a Troika e uma veia económica bem diferente da
matriz ideológica social-democrata, não é tarefa fácil. Num
congresso onde faltaram as vozes discordantes – como é o caso de Rui Rio e
Pacheco Pereira – poucas surpresas houve de maior registo. O presidente do PSD ainda
não percebeu bem o que lhe aconteceu, sobretudo quando diz que pretende, no
futuro, rever internamente as principais políticas públicas na área social,
para melhorar a redistribuição de rendimentos e combater as desigualdades. Falamos
do mesmo homem que destruiu todas estas políticas no passado recente, em nome
do cumprimento do défice e do pagamento da dívida. É por tudo isto que Passos
Coelho estará, para o bem e para o mal, unido ao passado. E
só lhe resta defendê-lo. Em nome da tal coerência que sempre disse ter. Mesmo
não sabendo que destino político o futuro lhe reserva, uma coisa é certa:
depois do legado de Passos, o PSD não voltará a ser o mesmo. Quem
lhe suceder terá a hercúlea tarefa de reinventar um partido que fez,
claramente, uma opção e inversão político-ideológica num período muito claro da
sua História. Resta saber até quando Pedro durará.
*Crónica de 4 de abril de 2016 na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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