Social media: o novo poder de destruição humana.




Hoje vou falar de um tema que muitos conhecem mas que nem todos sabem exatamente o seu impacto porque ainda não estão lá. Falo das redes sociais - social media -, esse palco dos tempos modernos, onde tudo é permitido. Falo em particular do Facebook e da polémica que, na semana passada, levou à demissão do ministro da Cultura, João Soares. Ao erro do ex-ministro já lá vou. Antes quero dizer que o Facebook veio substituir, há muito, o poder dos órgãos de comunicação social, ao nível do impacto na vida pública. Hoje, quem está rede, assiste à destruição de pessoas, à ascensão de outras, a ódios e guerrilhas constantes. A sociedade apodreceu. A portuguesa também. E é no virtual que tudo se joga. Tudo o que lá colocamos rotula-nos. Faz de nós monstros ou eleva-nos a seres respeitáveis. Em forma de plástico. Uma e outra condição podem não ser, necessariamente, verdadeiras. O chamado quarto poder, a que muitos atribuíam aos media em tempos, transferiu-se nos últimos anos para um palco que, não existindo na realidade, é o principal potenciador de factos. Esse palco chama-se redes sociais. João Soares não percebeu isso quando decidiu prometer umas bofetadas a dois colunistas do jornal Público. Não percebeu que a condição de Estado em que se encontrava merecia outro tipo de reação. Ou o silêncio ou um direito de resposta, no mesmo jornal, para defender a honra de homem sério que diz ser. E mesmo na hora de pedir a demissão não entendeu o que lhe aconteceu. Continua a achar que a liberdade de expressão, a sua, estava em causa. Nunca esteve. O que esteve em causa foi precisamente a dúvida sobre a sua condição de ministro. Faz mesmo crer que a célebre frase que «quem se mete com o PS leva» continua bem viva na mente de muitos socialistas. Esta foi também uma lição para António Costa e para todo o Governo. Aliás, o primeiro-ministro é o único a ter nota positiva na gestão do caso. Além do puxão de orelhas público a João Soares fez questão de pedir desculpa por um erro unilateral e carregado de irresponsabilidade. Quem não quer ter sentido de Estado não veste a pele de ministro. Basicamente foi essa a lição que Costa deu a todo o Governo. Que a aprendam, da pior forma possível, já que a democracia vale para todos e assim o exige em sociedades livres e democráticas. Uma última nota para o escândalo da semana: o Panama Papers. Ainda muita água vai correr na ribeira e, uma coisa é certa, nada nas cúpulas do poder a nível mundial voltará a ser como antes. A podridão há muito que existia, faltavam apenas as provas. Elas aí estão, desnudadas, e a mostrar que quem pode foge. Quem tem negócios obscuros enriquece à custa da sociedade que paga impostos e não pode fugir. Veremos até onde as autoridades de cada país terão coragem para ir.

*Crónica de 11 de abril de 2016 na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.



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