A incongruência do país político


O país muda consoante os ventos. Os políticos também. Serve isto para falar-vos esta semana de algo que, enquanto cidadã e eleitora, me tem perturbado. Não é uma perturbação de agora, mas desde sempre. 
Falo das incongruências dos nossos políticos quando se encontram no poder e quando passam para a Oposição. 
Vimos isso constantemente no PS e no PSD, e na alternância de poder entre estes dois partidos, existente em Portugal durante décadas. 
É um estado habitual este o de defender uma coisa quando somos Governo, e outra bem diferente, quando passamos para o difícil papel na Oposição. 
Contudo, talvez por isso me custe mais aceitar o papel a que hoje se confinam PCP e Bloco de Esquerda, reféns do acordo com o Governo de Costa. 
Seja no caso da venda do Novo Banco, na novela da Caixa Geral de Depósitos, ou em tantas outras matérias, comunistas e bloquistas perdem coerência, identidade e desviam-se daquilo que sempre foi e é o seu papel mais relevante na cena partidária nacional: o de partidos de combate e anti-sistema. 
Noutros tempos, em casos bem menos dramáticos, Bloco e PCP não descansavam enquanto não escrutinavam a ação governativa da direita. 
O Presidente da República, que este domingo deu uma entrevista ao jornal espanhol El País, ajuda à consolidação da estabilidade, dizendo que em Portugal «a coligação de esquerdas superou as expetativas». 
Marcelo tem razão. O acordo à esquerda tem sido uma agradável surpresa, para bem do país e da estabilidade. 
Resta saber até onde Jerónimo e Catarina Martins estão dispostos a ir para segurar o Governo de Costa e o que restará, em termos ideológicos, no futuro. 
Os eleitores à esquerda do PS certamente que vivem, por estes dias e meses, momentos de incógnita, sabendo que há limites que não podem ser ultrapassados. 
Jerónimo de Sousa sabe isto bem melhor do que o Bloco. O eleitorado do PCP é muito mais rigoroso e exigente do que o de Catarina Martins. 
Se o Governo se aguentar até ao final da legislatura, vai ser um bom teste a ida às urnas nessa altura. 
O melhor de tudo, é que a esquerda aprendeu a entender-se e a conversar, e esta é talvez a lição mais importante que está a dar a si mesma e ao País.

*Crónica de 13 de fevereiro na Antena Livre, 89.7, Abrantes.

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