Mação: um concelho nascido para sobreviver


Corria o ano de 2003. O verão chegava quente, como é hábito em Portugal.

No Interior, as altas temperaturas  risco de incêndio. Assim foi. Todo o concelho de Mação, no norte do Ribatejo, ardeu.

Anos a fio de trabalho resumidos a cinzas. Vidas inteiras perdidas, marcadas pela ruralidade, onde o sustento vem da terra e da floresta. Nesse inferno de há 14 anos estava lá em reportagem. Testemunhei a morte de uma das manchas florestais mais importantes do meu país. Vi famílias inteiras a perderem o suor de uma vida e a única fonte de rendimento economico que tinham.

Em 2017, o que todos já esperavam voltou, como era previsível, a acontecer.

O mais dificil de aceitar é o facto de, ao contrário do que é habitual, as campainhas de alerta terem tocado muitas vezes nos últimos anos.

A Câmara de Mação, pela voz do seu presidente e vice presidente, eram os rostos do lamento e da dor. Garantem a pés juntos que ao longo da última década implementaram medidas, pediram apoios e fizeram avisos às várias tutelas que lideraram o ministério da Agricultura.

Ouvi, por estes dias, responsáveis do setor florestal a confirmar o que a autarquia de Mação recorda com mágoa. Com muita mágoa.

O concelho de Mação é meu também. Tenho familia em várias aldeias. Desde criança que o lume é a companhia de uma vida. Todos nós, uma vida inteira, o vemos passar, verão após verão, e quando o verde resplandece.

O mais triste é que os diagnósticos estão feitos, as causas identificadas e só a ação não existe. A reforma da floresta que por aí agora avança será só mais uma. Quando a cor do poder mudar, voltamos à estaca zero. Os políticos, que têm muita responsabilidade nesta matéria, voltarão a substituir diplomas, a anular medidas e a pôr em causa mais uma vez um setor fundamental bem como a brincar de novo com as nossas vidas.

Quero acreditar no contrário. Mas não consigo. Até hoje, os senhores governantes, apenas legislaram para inglês ver, para populismo se escrever e para votos ganhar.

Enquanto nada se fizer por um ordenamento florestal equilibrado, enquanto no terreno continuarmos a ver caos, todos nós assistiremos, dos nossos sofás, à destruição de um país. Que é de todos.

Cronica de 31 de julho de 2017, na Antena Livre. 89.7, Abrantes.

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