Rui Rio: o calculismo que esventrou o partido



O congresso do PSD corria riscos. Alguns deles vieram mesmo ao de cima nestes últimos três dias, e foram clarinhos como a água, mas que configuram também um clássico na família laranja.

Depois da despedida de Pedro Passos Coelho, veio o novo líder, carregado de boas intenções e de apelos de união. O problema foi o que veio depois.

À boa moda social-democrata, os queixumes, os pequenos ódios de facções, acumulados durante os últimos anos, estiveram todos lá, à vista de quem não precisa de muito para os perceber.

Os passistas, fiéis a Pedro, não esquecem o que Rui Rio disse e escreveu nos últimos dez anos sobre os tempos da Troika e a governação passista.

Rio fingiu que não ouviu, fez de conta que não há divisões, e, à sua boa maneira, agora que alcançou a ambição de liderar o PSD, assobiou para o lado.

Como se isso não bastasse, afrontou as bases laranjas, as que, distrito a distrito, fazem o trabalho da cigarra e da formiga, para sustentar voto ao tempo de eleições. Distritais essas que foram uma base essencial de apoio para a eleição de Rio nas diretas.

E ainda não contente, o novo presidente do PSD foi buscar para a sua direção Elina Fraga, antiga bastonária da Ordem dos Advogados, numa clara posição de força em matéria de posição do partido para a justiça no futuro. O que isso irá implicar não sabemos, mas que é de facto uma mensagem inequívoca para o PS e para o sistema judicial, lá isso é.

Um dirigente do partido resumiu, por estes dias, de forma ímpar, o que foi este conclave que consagrou Rui Rio como presidente do PSD. Dizia ele: «parece que os donos do partido se juntaram, dividiram o partido ao meio e escolheram os amigos, o resto ficou de fora».

Mais coisa menos coisa, foi isto mesmo que aconteceu, à boa moda do PSD. Resta saber, como vai Rio fazer oposição a António Costa com um grupo parlamentar em cacos, como irá acalmar as hostes de base e de que forma irá fazer oposição ao primeiro-ministro, sobretudo estando fora do Parlamento, o palco maior de expressão opositora.

O calculismo de Rio pode virar-se contra si, contra as suas boas intenções, não só para o partido como para o país.

Mas isso só o tempo e as suas ações dirão. Por agora, uma coisa é certa: António Costa pode continuar a preocupar-se mais com a gestão dos seus apoios parlamentares à esquerda do que com a nova direita com sotaque do Norte. 

*Crónica de 19 de fevereiro de 2018, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.


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