Trampolins políticos


Foto: Miguel Lopes/Lusa


Nádia Piazza, a presidente da associação das vítimas do incêndio de Pedrogão Grande, vai integrar o grupo de trabalho do CDS que irá preparar o terreno político do partido para as próximas eleições legislativas de 2019.

A notícia foi conhecida este sábado no primeiro dia do congresso do CDS, em Lamego.

A liberdade política e de consciência é um dos valores mais sagrados de um país democrático. Ninguém o questiona, digo eu.

Porém, o que Nádia está a fazer é algo que não honra nem o trabalho da associação e muito menos as vítimas, essas tristes almas pelas quais já ninguém pode fazer nada.

Por mais que seja uma decisão livre, a partir de agora a imagem da porta voz das vítimas dos incêndios de Pedrógão ficará colada à política e, no caso, a um partido.

Além disso, para o bem e para o mal, a ideia que fica é que Nádia Piazza usou o pretexto de uma associação e de uma tragédia para entrar no campeonato dos caciques.

Assunção Cristas também fica mal na fotografia. O tal aproveitamento político que tantas vezes vem ao cimo da panela é agora sustentado de forma credível com o convite feito e aceite.

De que forma podem os cidadãos olhar com confiança para homens e mulheres que dão a cara pelas tragédias quando depois os vêm entrar, pela entrada principal das casas partidárias?

Seja quais forem as intenções desta contratação de Cristas, ela mancha, e muito, a credibilidade do CDS e a de Nádia Piazza, já que ficará sempre no ar a dúvida sobre a forma como uma tragédia foi trampolim para as aspirações políticas que agora conhecemos.

É este o país pequenino onde vivemos. É este o espírito de quem usa o poder.

*Crónica de 12 de março na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR

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