Angola e Portugal: mais do que a amizade são os interesses que os move
Depois de tantas tempestades, aparentemente, parecem saradas
as feridas entre Angola e Portugal.
Os últimos anos foram turbulentos, desde imbróglios
diplomáticos, casos judiciais, problemas com emigrantes portugueses, tudo
pintado em crises económicas que atravessaram e ainda fazem mossa em ambas as
economias.
A visita do presidente angolano a Portugal na última semana
foi decisiva, pelo menos a curto prazo, sobretudo na normalização diplomática
entre os dois países.
João Lourenço olha para Portugal como um amigo. Portugal faz
o mesmo. Mas, na verdade, ao longo destas últimas décadas, em que as feridas do
passado colonial foram longas, foi muito demorada a normalização ao nível da
amizade.
É dos livros e da realidade também, que quando os líderes
falam em amizade, o que querem normalmente dizer é outra coisa. São os
interesses que movem as relações comerciais e diplomáticas, porque a amizade,
essa, esfuma-se ao mínimo arrufo quando uma das partes fica desagradada.
Seja como for esta visita foi essencial para estancar
barreiras, silêncios e afastamentos invisíveis e nem sempre claros.
Aparentemente João Lourenço chegou à presidência de Angola
com vontade de lutar contra a corrupção. Inclusivamente mostrou-o, tendo
encetado um conjunto de alterações em diversos setores, nomeadamente no setor
empresarial do Estado angolano e expurgando muito dos amigos e família de José
Eduardo dos Santos.
Pese embora pareça uma vontade genuína, não sei se será
mesmo assim ou, apenas e só, uma arte mágica de querer apenas parecer.
Tenho essa dúvida. O tempo dirá se João Lourenço chegou para
limpar décadas de conluio na sociedade e Estado angolanos, ou se é apenas uma
forma de distrair os mais inocentes.
É preciso dar tempo ao tempo. E o tempo, esse, será longo.
*Crónica de 26 de novembro, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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