Louriceira: das origens e das entranhas profundas

Foto: Ana Clara
O pão, amassado, de madrugada, há-de ir para o forno, quando o sol nascer.

Ao mesmo tempo a primavera desponta com a manhã que fará mais um dia cumprir-se no calendário. 

A fauna e a flora voltaram a nascer. Ninguém diria que, ainda nem dois anos passaram, desde que o incêndio passou por aqui. 

Na aldeia da Louriceira, no concelho de Mação, onde restam os mais velhos, já não se vislumbra sequer um desejo de recomeço.

Em Lisboa, capital de um país que se tem esquecido destas gentes, o meu sobrinho, Tiago, de 13 anos, vai-me enviando fotografias neste abril tão nosso.

Hoje é ele quem vive aquilo que para mim são memórias de uma infância humilde e feliz.

É pelos olhos dele e da Matilde, a princesa cá de casa, que revivo as minhas origens. Cumprem eles agora o destino que sempre sonhei: beberem da nossa aldeia o melhor que ela tem.

É uma alegria tremenda. Eles, crianças urbanas, revigoram-se com a simplicidade da vida mais genuína, lá, entre montes e vales, onde o isolamento persiste e o tempo parou.

Os avós são os seus guias, e para eles, envolvê-los nas entranhas, onde eles também pertencem, é um sonho cumprido.

São estas vivências que as gerações mais novas precisam de experienciar.

Para que não esqueçam que, para lá das estradas, do progresso e modernidade onde vivem, há um país.

Porque cada português conta. Porque cada aldeia faz o retângulo. E, sobretudo, porque há gente feliz.

*Crónica de 15 de abril, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR
Foto: Tiago Clara

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