Museu do Estado Novo: uma ideia que pode ser (muito) perigosa



Vai nascer em Santa Comba Dão o Museu do Estado Novo, dedicado a António de Oliveira Salazar.

Não me incomoda a criação do espaço nem muito menos que a História possa estar disponível para todas as gerações, sobretudo para as que não a conhecem verdadeiramente.

Acima de tudo, não me incomoda, porque é preciso evocar o que não queremos para construirmos sempre um futuro melhor.

Contudo, o que mais me inquieta é o perigo que uma estrutura destas pode representar. Com que intenção é criado? Em que moldes? Com o objetivo de destacar factualmente a história ou uma personagem?

Tudo isto me desassossega. E nada do que foi dito até agora me dá respostas claras para dissipar a minha inquietação.

Se a intenção é criar um local de culto, peregrinação e saudosismo de uma figura macabra como foi Oliveira Salazar, então estamos perante uma apropriação política e não histórica.

Um Museu não pode centrar-se na imagem de um homem, um homem que representou tudo aquilo que contraria liberdades e garantias cívicas da sua população.

Um homem que suspendeu as vidas do povo português durante 40 anos, que aprisionou um país, que centralizou ideias e valores.

É tudo isto que um museu como este que agora querem criar, tem de simbolizar e dar a conhecer.

Por outro lado, se tencionam criar um Vale dos Caídos, como em Espanha fizeram com Franco, tristes e pálidas vão as consciências dos mentores desta assustadora ideia.

Esperemos para ver o que sai desta espinhosa ideia lá para os lados de Santa Comba Dão.

Eu, por mim, chumbaria a triste ideia. Se há máxima que Salazar nos deixou, é que não precisamos de Museus que nos recordem a tristeza do caráter individual dos homens parcos de espírito. 

Sobretudo os que construíram o negro Estado Novo. 

*Crónica de 29 de julho, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.

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