«Hallelujah»


«Quando gastamos mais do que produzimos, há sempre um momento em que alguém tem de pagar a factura; com este aumento da dívida externa e do desemprego podemos caminhar para uma situação explosiva; a dívida do Estado tem vindo a crescer a ritmo acentuado e aproxima-se de um nível perigoso. Não podia haver diagnóstico mais realista da economia portuguesa, entendível até por quem não estudou economia. Mas Cavaco disse alguma coisa de novo? Não. Repetiu o que analistas e "opinion makers" dizem há muito tempo. Só que vindo de quem vem, as suas palavras têm outro peso. Para o Governo, cujo discurso anda perigosamente alheado dos verdadeiros problemas do País. Para a oposição, que parece mais interessada em tirar desforço das humilhações da anterior legislatura que na formação de consensos para resolver os nossos problemas. Só que as palavras de Cavaco merecem outra leitura. Porque até agora o Presidente nunca tinha falado tão grosso sobre a situação do País, traçando uma radiografia totalmente oposta à do Governo e até do Banco de Portugal (cujo governador no parece incomodado com o défice externo e com a redução da despesa pública). Será que Cavaco, até aqui manietado pelos disparates das escutas, inaugurou uma nova fase na sua actuação política? Esperemos que sim.
Primeiro porque a grave situação económica do País exige um Presidente que funcione como contraponto ao irrealismo do Governo. Segundo porque já toda a gente percebeu que a actual crise só se combate com consenso alargado. Toda a gente menos o primeiro-ministro. Hallelujah!».
Camilo Lourenço. Jornal de Negócios.

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