Um Alentejo sem fim. E com dedicatória para os gabinetes do Terreiro do Paço
Abril é o mês de águas mil. Em
2013 foi Março o tempo da água, muita água, que inundou um pouco por todo o
país, campos e cearas, planícies e montados. Há uns dias percorri, calmamente,
o Baixo Alentejo.
Entre Mértola e Serpa distam 50
quilómetros, o tempo e distância suficientes, para contemplar um Alentejo em
êxtase máximo. Planícies verdejantes, flora e fauna no melhor da cor, dos sons,
da vida. Assim estão os montados alentejanos, genuínos, onde a Natureza se
expõe e desnuda em todo o seu esplendor.
Aqui e ali riachos que correm, o
Guadiana que segue o seu caminho, num ritmo mais acelerado por estes dias,
fruto de um Alqueva na sua cota máxima. Vaguear por este Alentejo por estes
dias é como olhar para um relógio sem ponteiros. O tempo não passa, o mundo não
gira e quase nos esquecemos que vivemos no país da crise, no país da Troika, no
Portugal austero.
Mas este também é o Alentejo onde
a desertificação de que todos em Lisboa falam se adensa. Por terras do
Guadiana, a felicidade é algo que acontece diariamente, naturalmente, sem ser
pensada. Porque aquelas gentes vivem da terra, dos campos que alimentam a mesa,
sem dependerem dos grandes hipermercados ou das importações. Em solos de
montado generoso é fácil ser feliz, mesmo vivendo na interioridade.
Contudo, é bom que nos gabinetes
do Terreiro do Paço se tenha a consciência que a solidão, a falta de apoios, e
a ausência do Estado Social faz mossa. Cada vez mais mossa. Era bom que os
senhores ministros soubessem que há pessoas a quase cem quilómetros de um
hospital, que há crianças que vagueiam por vilas e aldeias à espera que os pais
venham dos campos, que há idosos moribundos nos bancos de jardins e às portas
das tabernas.
O Alentejo é uma das riquezas mais
importantes que possuímos, faz parte de uma portugalidade que exporta azeite,
vinho e ervas aromáticas do melhor que há do mundo. Possui paisagens, turismo e
uma gastronomia ímpar que nos ajuda a criar riqueza. Mas sem um bem-estar
social fruto da ausência de um Estado que se demite das suas funções sociais,
não há Alentejo nem país que resista.
Por isso, esta semana, esta
crónica é dedicada ao Alentejo e às suas gentes. Porque o meu sangue ribatejano
confunde-se com a minha alma alentejana. Todos e cada um de nós pertencemos a
cada província deste burgo. De Trás-os-Montes ao Algarve, das Beiras ao
Alentejo, do Ribatejo ao Minho. Somos todos Portugal.
E falta a corrente colectiva mais
importante para, em tempos de crise, superarmos as dificuldades: uma política
colectiva que nos puxasse para cima. Que nos fizesse acreditar que temos tudo
para ser bons e vencer este obstáculo.Acredito que somos capazes. Basta que
assim o desejemos.
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