Ensino profissional. Uma escolha ou um retrocesso.
Com os níveis de desemprego a que
Portugal chegou, começa a ser dramático resolver o problema. A falta de
oportunidades lavra de norte a sul, o desespero toma conta de famílias inteiras
e, com o cada vez maior corte nos apoios sociais, entrámos há largos meses numa
fronteira perigosa de sobrevivência. O país dos doutores, temo dizê-lo, acabou
para as actuais gerações. E por tudo isto hoje quero abordar um tema de que nem
sempre se fala. O ensino profissional, técnico e profissionalizante sempre foi,
e hoje é-o cada vez mais, uma saída, uma aposta e pelo menos a réstia de
esperança para muitos dos nossos jovens. Conheço bem algumas áreas
profissionais deste país. Há muitos anos que defendo este tipo de ensino. E sei
bem que durante muitos anos houve um preconceito em relação a ele e que custou
a erradicar. Preconceito este que atingiu todos: Governos, empresas e cidadãos.
O ensino profissional, encarado muitas vezes com estigma e como sendo menor, é,
pois uma saída com mais garantias do que centenas de cursos superiores de coisa
nenhuma que por cá tivemos e continuamos a ter. Cursos criados à pressão, sem
componentes práticas e técnicas, onde predomina a teoria, e incapazes de
preparar profissionais aptos a entrar no cada vez mais exigente mercado de
trabalho. Reforçar a aposta no ensino profissional é uma das muitas apostas que
necessariamente os governos dos países sob programas de ajustamento financeiro
têm de fazer. Mas isto não chega. Há que incentivar as escolas profissionais,
seja através de protocolos ou de parcerias com empresas. Só assim podemos
aumentar a formação em contexto de trabalho e obrigar as empresas também a
reconhecerem a importância de investir na formação profissional. Dados recentes
indicam-nos que existem neste momento em Portugal 32 mil alunos a frequentar o
ensino profissional. Este tem de ser um caminho de futuro e permanente para as
gerações actuais mas também para as futuras. Só assim podemos inverter o retrato de um país
que tem 14,3% da sua população empregada a tempo parcial e estancar uma taxa de
desemprego que já chegou aos 18%. Ou paramos de formar doutores de coisa
nenhuma e engenheiros que aqui já não nos servem para nada e criamos valor com
profissionais necessários e tecnicamente aptos para a produção e economia que
temos ou então estamos literalmente encurralados e paralisados. E já agora, aos
jovens, deixo um alerta: não tenham medo nem vergonha de serem o que quiserem. Serem
agricultores ou advogados, pescadores ou médicos é exactamente a mesma coisa do
ponto de vista da dignidade. Nestes tempos de mudança, precisamos todos de redescobrir
paixões que provavelmente nem imaginávamos ter, necessitamos urgentemente de
lutar por aquilo que realmente vale a pena e tem valor. Só assim podemos,
colectivamente, juntar os cacos e seguir em frente. Só assim, podemos
individualmente, alcançar um pouco de esperança.
*Crónica de 17 de Junho, Antena Livre, 89.7, Abrantes.
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