O outro lado dos transportes públicos


Quem vive e trabalha em Lisboa e utiliza os transportes públicos, para o bem e para o mal, acaba por conhecer melhor que ninguém a realidade - prática - das companhias.

Há anos que me desloco em Lisboa de metro e na Carris. Antes e depois da Troika, quem por cá anda, sentia na pele os problemas financeiros, os cortes no investimento da frota, a fragilidade do serviço.

Porém, pese embora a má gestão crónica - de décadas - alimentada pela ausência de uma reforma forte ao nível da mobilidade urbana e metropolitana, há um lado de que nunca se fala: o da responsabilidade dos utentes.

O mais evidente está à vista de todos: a quantidade de passageiros que, no caso da Carris, viaja sem pagar bilhete.

Ora, dezenas não fazem mossa, mas milhões fazem muita diferença. Hoje, em pleno 728 (um dos autocarros mais procurados da companhia) assisti a uma fiscalização. No espaço de meia hora foram passados 13 autos, cada um a 185 euros cada.

Por mais que queira não consigo entender o risco de viajar sem pagar. Sobretudo quando sabemos que estudantes, idosos e pessoas com condições económicas mais vulneráveis têm uma redução significativa no passe mensal. As justificações dos multados eram as mais diversas: «não sabia que não tinha dinheiro no passe»; «esqueci-me de validar o passe (mas o passe estava a zeros)»; «ah, era só 500 metros a viagem, de uma paragem».

Por mais que me expliquem, não consigo perceber esta realidade. E, também por isto, o passivo de uma das empresas mais endividadas do país, aumentou durante décadas. Só podemos exigir melhores transportes ou serviços mais exigentes se também nós nos portarmos como gente de bem. Mas são muitas vezes os que se acham mais espertos que os outros, os primeiros a atirar as primeiras pedras.

Assim, nunca lá chegaremos.

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