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Foto: Nuno Pereira |
Há
uma semana, quando a minha crónica na Antena Livre estava no ar, ainda não
havia noção da tragédia dos incêndios desse fim de semana.
Depois,
bem, depois, todos sabemos que números nos bateram à porta.
Não
vou falar do que aconteceu, nem ajuizar as atitudes políticas. Tudo isso já foi
falado, escrito, debatido, de uma forma tóxica até pela sociedade portuguesa.
Quero
antes dar-vos o testemunho de alguém que assistiu, in loco, à recuperação, à
reconstrução, ao caminho do futuro. Porque é disso que se trata imediatamente
após tamanha tragédia. Vivi-o na pele em Agosto com a minha família e assisti
de novo ao reerguer de gentes que merecem tudo.
Quero falar-vos de Nuno Pereira, fundador da
Lusoberry, empresa que se dedica à produção de
mirtilos e inovação dos seus derivados, em Oliveira do Hospital, região terrivelmente
afetada pelos incêndios de há uma semana.
O Nuno e a sua família viveram este drama por dentro, com
amigos e família em perigo, assistiram à tragédia naquelas duras horas em que o
fogo lavrava. Perdeu inclusivamente 150 hectares nas suas explorações, totalmente
devorados pelas chamas.
Dois dias depois, Nuno estava em Madrid, na maior feira do
mundo dedicada às frutas e legumes, para promover e dar a conhecer os seus
produtos e o nome da sua empresa.
Dou o caso do Nuno, porque vivi-o de perto. E estive com
ele na capital espanhola.
Achava até que, ante a tragédia, Nuno já não iria a Madrid.
Este empresário português fez precisamente o contrário: arregaçou as mangas,
tentou ajudar como pôde e foi a Espanha, de sorriso no rosto, mostrar ao mundo que
desistir é palavra que não entra no vocabulário de um português.
Este é só um exemplo de como o renascer das cinzas é
possível. E o primeiro passo tem sempre de ser dado mostrando a força
necessária para lutar. Por mais que estejamos no chão e sem esperança.
Nuno e a sua família são um caso de resiliência vincada no
Portugal do Interior.
Simbolizam a força de um país que existe fora das grandes
cidades e que só é reconhecido quando as tragédias batem à porta.
É por isso que te agradeço, Nuno, por seres um exemplo para
um país. É essa a dignidade que nos merecem os que perderam a vida e aqueles
que ficaram com a sua dor eterna.
*Crónica de 23 de outubro de 2017, na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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