Viagem ao coração do povo moçambicano
Estação de caminhos-de-ferro de Maputo |
Neste fim de julho em que está aí o mês mais querido dos
portugueses achei que seria um bom momento para falar de um país pelo qual me
apaixonei já lá vão uns 15 anos.
O momento coincide com uma carta que recebi há uns dias de
um amigo que vive em Maputo há muito tempo.
Todos os anos, religiosamente, me faz chegar, à boa moda
antiga, cartas com desenhos de uma cidade que foi a minha casa era eu, pode
dizer-se, uma criança de 20 anos.
Voar para Maputo ou, como quem diz, fazer férias em Maputo ainda
é caro. Sim, não vale a pena dizer o contrário. Mas todos os meticais gastos,
garanto, valem cada um a sua maravilhosa pena.
Mais do que o país, o que me fascinou em Moçambique foram as
pessoas. As gentes e as suas emoções. Terrivelmente pobres, a maioria, mas com
uma alma maior que o mundo. Têm, por nós, um carinho especial, sentimento ímpar
que longos anos de colonização podiam culminar no contrário.
Na capital transformamo-nos. Não só na carne mas também na
alma. Não sei se é do clima, se são os cheiros ou até os sabores. Ao fim de
três dias em solo moçambicano somos outra pessoa. Assim aconteceu comigo. E sei
que acontece com tantos outros.
E acontece-me muitas vezes transportar-me de novo para as
avenidas largas de Maputo, com as suas acácias e jacarandás, para as águas
quentes do Índico, para a baía da cidade ou aquela vista que será única e para
sempre do por do sol no fantasmagórico Hotel Polana.
Hotel Polana, Maputo |
Ainda acordo com o sabor a marisco, da sopa de mandioca ou
da cacana, dos cheiros a café acabado de fazer e dos mercados da cidade onde
todos me desaconselhavam a ir sozinha e eu me pavoneei por todos eles com os
meus sonhos.
É por isso que esta crónica é dedicada a todos os
moçambicanos de quem tenho saudade, a todos os portugueses que para esta terra
mágica emigraram e ao meu pai, que viajou através de mim, corria o ano de 2003.
Ele que serviu na guerra e que, à minha partida, sabia que a minha viagem seria
o seu regresso.
Moçambique é muito mais que África. É Portugal nas suas mais
variadas cores e, sobretudo, no melhor que tem enquanto povo.
*Crónica de 30 de julho de 2018, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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