Loureiro dos Santos: uma fibra que rareia
Morreu Loureiro dos Santos. A
notícia apanhou-me desprevenida e lancinou-me de forma inesperada.
Nunca fui próxima do general.
Em 15 anos encontrámo-nos várias vezes em conferências, encontros de
circunstância, sendo que o entrevistei umas cinco vezes.
Descobria sempre algo em mim,
de cada vez que ouvia as suas palestras. Conversar com ele, nas devidas distâncias
que se impõem entre uma jornalista e um entrevistado, eram verdadeiras aulas de
História e de aprendizagem constante.
Era um homem de expressão
séria, não só física como intelectualmente. Ao mesmo tempo demonstrava uma
doçura estranha quando sentia simpatia pelo outro e que podia confiar nele. Se
há coisa que para ele era sagrada era a palavra e a firmeza dos acordos que
estabelecia em qualquer circunstância.
Com ele aprendi
verdadeiramente o sentido da palavra terrorismo. Foi dele que bebi da História
diplomática e bélica do século XX. Sempre com uma humildade sem paralelo. Era
um homem extremamente culto, inteligente e simples. Valores que sempre me
encantaram.
Por duas vezes cruzou-se
comigo em dois cursos de defesa pessoal para Jornalistas, organizado pelo
Instituto de Defesa Nacional. Já lá vão mais de dez anos. Era nesse contexto
que gostava de estar: a partilhar as suas experiências e o seu saber com os
mais novos. E, para muitos será estranho, mas com um sentido de humor
inacreditável.
Com a sua partida, Portugal
perde um dos seus melhores génios. Um homem que deu o corpo às balas em matéria
de democracia, humanismo e tenacidade.
O país não seria o que é sem
ele. E eu, enquanto cidadã, serei sempre uma pessoa mais pobre por vê-lo partir
assim.
Dele guardarei o melhor que me
podiam dar: a partilha de experiências únicas, o conhecimento ímpar de estórias
que só ele as testemunhou e um sentido de seriedade como poucos já carregam.
Obrigada General Loureiro dos
Santos. Que a viagem lhe seja leve.
*Crónica de 19 de Novembro, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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