Monchique: o esquecimento persiste
Monchique é a última a ser esquecida. Autarca e populações
continuam à espera dos apoios prometidos após os incêndios deste ano.
A serra algarvia, que voltou a arder este verão, vai demorar
anos a renascer, desde a biodiversidade ao tecido económico, social e
autóctone.
Pese embora as promessas vãs dos políticos, a verdade é que
a demora na atribuição dos apoios financeiros é, agora se sempre, o principal
problema.
Das denúncias que continuam a ser feitas, autarca algarvio
inclusive, o problema é ainda mais profundo, já que ao nível dos apoios
sociais, o abandono do Estado aos que tudo perderam e vivem isolados na serra,
é outra negra realidade.
Na mesma semana em que surge o grito vindo do Algarve, o
Parlamento aprovou recomendações do PSD, CDS-PP e Bloco de Esquerda para que o
Governo simplifique o apoio às vítimas dos fogos no Algarve. O PS, partido que
está atualmente no poder, absteve-se. Elucidativo.
Tudo isto é, na verdade, mau demais. E, tal como aconteceu em
Mação, no norte do Ribatejo, em agosto de 2017, o atraso do Estado na ajuda às
populações está estar a repetir-se a no Algarve.
Há dois pesos e duas medidas no apoio ao Portugal rural, mas
também na rapidez das candidaturas bem como na eficácia com que as ajudas
chegam ao terreno.
Este é só um exemplo de como o Estado trata, de modo
diferente, casos semelhantes.
Em Monchique e Mação a tragédia no território foi semelhante
a Pedrógão Grande. A diferença é que, felizmente, não morreram pessoas.
Custa-me a acreditar que esta diferença seja a mesma que
afaste a igualdade que o Algarve merece e há muito devia ter tido.
Resta saber como irá terminar esta história e que entraves
mais irá ainda o Estado e os mecanismos oficiais usarem para negar a estes portugueses
o direito à reconstrução. Das suas casas, dos seus sustentos e das suas vidas.
O secretário de Estado das Florestas e Desenvolvimento
Rural, Miguel Freitas, conhece melhor do que ninguém a realidade algarvia. E
sabe, melhor que todos nós, que a serra de Monchique é o sustento de muitas
famílias. Até agora, não lhe vi nenhum rasgo sobre o problema.
Afinal, para que servem os governantes que elegemos? Talvez
nunca venhamos a saber.
*Crónica de 10 de dezembro na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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