Funchal: a pérola do Atlântico estendida e desnudada
Texto: Ana Clara | Fotos: Ana Clara e Ricardo Cruz
Para mim viajar sempre foi sinónimo de renascer,
conhecer novas gentes, mas também as suas tradições, culturas e hábitos. Na verdade, quero sempre entranhar-me em cada passo.
É por
isso que Platonismo convida todos a embarcar numa viagem que começou em Lisboa
e percorreu várias cidades, desde a Madeira, passando por Marrocos e Espanha, e
terminando na capital portuguesa.
A primeira paragem: Funchal. Tinha estado há uns
anos na cidade, por algumas horas, em trabalho. Mas nunca tinha parado para a
contemplar e muito menos para lhe conhecer os segredos.
Foeniculum vulgare. O nome científico corresponde
ao que todos conhecemos por funcho. E é dela que resulta a palavra Funchal.
Fiquei a conhecer-lhe a história porque quis saber onde tudo começou, e, de
acordo com relatos históricos relacionados com a toponímia do Funchal, tal ficou a
dever-se ao facto de os primeiros descobridores ao chegaram ao largo da ilha, terem avistado, em primeiro
lugar, densos arvoredos, entre eles o funcho. A planta é utilizada hoje nas mais
variadas aplicações gastronómicas funchalenses.
Na cidade, não faltam motivos de visita. Desde
passeios na baixa do Funchal, com um clima tropical já a puxar para o “quente”,
em abril, a convidar a um mergulho nas praias ou a passeios prolongados, entre
esplanadas e cafés, não faltam opções para contemplar não só a cidade como o
Atlântico, esse mar que lhe confere a genuína visão de paraíso e pérola
inconfundíveis.
Do mar à serra, passando pelos inúmeros jardins
que povoam a ilha – sugerimos o Jardim Botânico, que vale a pena a visita – até
ao artesanato – os famosos bordados da Madeira e os carros de cestos (estes
últimos não tive coragem de experimentar) – são muitos os motivos para visitar
a cidade.
Aventurar-me no famoso teleférico do Funchal foi inevitável. Uma viagem deslumbrante mas ao mesmo tempo assustadora, à medida que
o percurso chega ao fim, no topo da colina. A ocasião revela também muito do
desordenamento urbanístico que caracteriza a ilha, em que se
construiu a bom construir, sem critério nem regra.
É também elucidativo como, lado a lado, a pobreza coabita com mansões luxuosas, denunciando uma ritmada
escadaria de casas e mais casas, oscilando entre quem tudo tem e os outros,
cujas dificuldades estão ali, a céu aberto e bem visíveis.
A cor é um elemento permanente na cidade, seja na
baixa, ou no interior da ilha. Da fauna à flora, é um mundo interminável
de cores, ruídos e cheiros irrepetíveis.
A Laurissilva, classificada em 1999 pela UNESCO como Património da Humanidade, é ponto assente na viagem. De tantas vezes ver fotografias e
reportagens, confesso que tinha esse desejo mais do que anunciado. Lá estavam
as levadas frescas e imparáveis, entre espécies endémicas de flora e fauna, que
conferem a esta floresta subtropical, o estatuto de um dos lugares mais nobres
no ranking dos santuários naturais da Terra.
Quem não tiver muito tempo – como era o
meu caso – sugiro uma viagem de autocarro com uma paisagem panorâmica de
360º. Nada mais seguro e o ideal para conhecer melhor a parte histórica da cidade
do Funchal até Câmara de Lobos.
São vários os percursos e os locais, é só uma questão de tempo e escolha.
Durante a viagem é possível ter áudio, em várias línguas, permitindo assim
conhecer a história dos lugares e monumentos por onde vamos passando. Com a vantagem de podemos sair em qualquer paragem para conhecer melhor os locais,
e regressar de novo à viagem, já que de 30 em 30 minutos há novo autocarro a
passar.
Falar do Funchal nos dias de hoje sem falar de Cristiano Ronaldo é impensável.
Além da atração turística do Museu CR7, na baixa da cidade, o turismo e todo o
comércio local herdou uma nova fórmula de sucesso de vendas. São incontornáveis
as constantes alusões ao melhor do mundo. E sente-se sempre no ar, e em
quaisquer circunstâncias, um orgulho genuíno na marca CR7.
Caminhadas, escaladas, atividades ao ar livre, observação de aves,
passeios de barco, mergulho, experiências gastronómicas locais, são algumas das
inúmeras opções que encontra na ilha da Madeira.
Se for por estes dias, conte com uma alegria permanente, pois decorre até
26 de maio, no Funchal a famigerada Festa da Flor, que se assume como uma homenagem à primavera, e a celebração do
renascimento, da fertilidade e da abundância das flores na ilha.
Para quem não conhece esta é também uma
festa que conta com muita tradição, quer através das atuações de grupos
folclóricos, quer da construção de tapetes florais e que pintam de cor a cidade
do Funchal durante quase um mês.
É também quase obrigatório um passeio pela costa noroeste da Madeira, nomeadamente pelo Paul da
Serra e Porto do Moniz. A beleza natural da ilha explode neste ponto, sem
mácula e com vontade de voltar ainda antes de abalar.
Não posso esquecer o Mercado dos Lavradores, com uma arquitetura muito prórpia do Estado Novo, mas onde reina o rebuliço permanente, entre mulheres e homens, que, sem esforço, conseguem fazer do espaço uma festa plena.
A finalizar, o coração da ilha e o famigerado Curral
das Freiras. Entre montanhas e alturas que fazem tremer o corpo aos menos
fortes, a paisagem é deslumbrante e de cortar a respiração. Não há como
esquecê-la.
Não sei se um dia voltarei, mas do Funchal parti
com o coração cheio, aquecido pelas gentes tão acolhedoras, pelos cheiros tão
intensos, tive inclusivamente a sorte de assistir a um espetáculo inesperado de golfinhos a dançarem
nas águas frias do Atlântico, numa espécie de ode à saudade e como que a dizer:
“volta, AC, ainda ficou tanto por ver”.
Próxima paragem: Marrocos. Em
breve e quando a prosa se soltar.
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