O que falta em Bruxelas? A velhinha solidariedade europeia
Os líderes europeus não se entendem sobre o plano de relançamento europeu, em boa parte devido às resistências dos chamados países ‘frugais’ - onde se encontram a Holanda, a Suécia, a Dinamarca e a Áustria.
Ao fim de dois dias intensos de negociações, o Conselho Europeu iniciado na sexta-feira de manhã em Bruxelas ainda não permitiu que os 27 se aproximassem o suficiente para a necessária unanimidade em torno das propostas sobre a mesa, de um orçamento da União para 2021-2027 na ordem dos 1,07 biliões de euros e de um Fundo de Recuperação de 750 mil milhões para ajudar os Estados-membros a superar a crise provocada pela pandemia da Covid-19.
Embora uma das questões delicadas das negociações pareça bem encaminhada, a da governação do Fundo de Resolução - a Holanda, que era o único país a fazer desta matéria uma ‘bandeira’, já aceita à partida a proposta de um “mecanismo travão” à autorização de pagamentos para casos extraordinários em que haja dúvidas sobre se determinado Estado-membro está a proceder às reformas necessárias –, são ainda muitas as diferenças que subsistem a impedir um acordo a 27.
Sendo que a questão da condicionalidade das ajudas ao respeito do Estado de direito ainda não está resolvida - Hungria e Polónia continuam desagradadas com o texto proposto, e as discussões prosseguem com vista a encontrar uma formulação que agrade a todas as partes -, o grande obstáculo a um entendimento é os montantes em jogo.
Na verdade tudo isto só prova o quão distante estão os países da UE da famigerada solidariedade europeia. A velhinha ideia de Europa, baseada na coesão social, sempre foi uma prioridade nos discursos dos líderes europeus, mas até hoje continua por cumprir.
Merkel e Macron tentam mediar o que não é possível remendar. Há histórias de vida nesta UE atual que não avançam por um passado recente marcado por muita quezília e diferença.
Que saibam todos chegar a um acordo de cavalheiros. Já só é isso que se pede.
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