Rita Rato e o Museu do Aljube: desmistificar preconceitos ideológicos
Na semana passada criou-se no espaço público uma celeuma ideológica em torno da nomeação de Rita Rato para Diretora do Museu do Aljube, um espaço que evoca a memória sobre a resistência e a liberdade no combate à ditadura que vigorou durante o Estado Novo em Portugal.
Muitos foram os que condenaram a escolha, mas a crítica mais feroz veio da Associação Portuguesa de Museologia, que, na voz do seu presidente, João Neto, considera a escolha errada, alegando que Rita Rato não tem experiência técnica e científica para o cargo.
O organismo que tutela o Museu, a EGEAC, garantiu que a escolha da antiga deputada do PCP se deveu ao facto de Rita Rato ter apresentado um projeto diferente para o futuro do Museu, dizendo ainda que a mesma foi alvo de uma entrevista profissional.
Na verdade, na minha opinião, o que está em causa não são as competências de Rita Rato, nem sequer o seu currículo profissional para exercer o cargo e as prestigiadas competências técnicas, que, de todo, não tem.
O que vem ao de cima em todo este coro de críticas, não só de historiadores, agentes culturais e de partidos políticos, é o facto de Rita Rato ter um passado político e partidário que a define. E define-a neste momento.
Para muitos, tristemente, continua a ser doloroso aceitar que um comunista chegue a um cargo de liderança, de gestão e de poder neste país.
Continua a haver na sociedade portuguesa e nas suas elites um preconceito contra o PCP e os seus dirigentes.
Estou à vontade para falar porque nunca fui conquistada pelas ideias e pensamentos do Partido Comunista Português e há muito que quem me acompanha sabe o que penso do partido, que respeito, mas que considero estar ultrapassado, em toda a linha.
Serve isto para dizer que o problema da escolha de Rita Rato para dirigir o Museu do Aljube não é técnico nem profissional, é político e está carregadinho de ódios de classe, de estigmas ideológicos e de fantasmas históricos.
E este, caros ouvintes, é um dos maiores cancros que o sistema partidário nacional ainda continua a padecer. E com isto, continua a contaminar a sociedade portuguesa.
Se Rita Rato for incompetente para o cargo, não demorará muito a descobrir-se. Até lá, aprendam a conviver com a diferença. Conviver com as escolhas dos outros, e com as suas ideias, mesmo que estejamos do lado oposto da vida, é a maior prova de integridade que podemos ter.
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Crónica de 13 de julho, na Antena Livre, 89.7 Abrantes. OUVIR.
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