Tal como Neruda, confesso que vivi!


Como Neruda, confesso que vivi (e vivo), que errei (e erro), que conheci o excesso e a intensidade dramática da entrega plena sem pedir nada em troca, nem sequer, às vezes, a compreensão que desse alento para um regresso noturno a Lisboa, sob chuva torrencial, para entrar cedo nas redações dos jornais ou revistas onde trabalhei (e trabalho hoje ainda). Fi-lo (e continuo a fazê-lo) por convicção e paixão, e não me arrependo, porque como continua a dizer a minha mãe, é essa a massa de que eu era e sou feita, aquela que me veio com os genes, aquela que, mesmo sob outras formas, acabei por nunca renunciar, apesar das ruturas ideológicas, das reflexões filosóficas, dos sobressaltos existenciais, dos fugazes arrependimentos. 

No fundo, aquilo que vivi (e continuo a querer intensamente viver) já ninguém me tira e está gravado na minha memória até ao fim. E assim quero manter, revisitando, sempre que me apetecer, lugares, nomes e datas, sem rigor histórico até, mas com o irrenunciável desejo de partilha que se tornou marca indelével da minha vida. 

Assim sou. Assim me quero. E tal como Neruda, confesso que vivi! 

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