Cavaco: à sua imagem e semelhança
Um ex-presidente não perde os seus direitos cívicos, com certeza que não. Mas perde muita oportunidade para se manter equidistante da vida política e partidária quando já não faz sentido. A entrevista desta sexta-feira à CNN Portugal demonstra bem a necessidade de Cavaco de ajustar contas com o seu passado. Nada mais. Apenas e só consigo. O ódio à Geringonça, ao PS e às escolhas legítimas do País eram escusadas de se ver. Tal como tudo quanto quis dizer do PSD, o partido que lhe deu tudo. A ingratidão é uma coisa muito feia, em política, sabemos bem, vale muito. Junte-se a isto tudo Maria João Avilez, no papel que mais adora (de adoração aos heróis), e resulta num momento televisivo nada bonito de se ver. O pormenor, grave, é que Cavaco já não está na vida ativa. Mas ainda ninguém lhe disse. Estamos em 2022, e não em 1992. Quando olho para trás e para todos os outros ex-presidentes é impossível não fazer comparações. Cavaco continua igual a si próprio, como se fosse proprietário de uma verdade absoluta, como se, passados 30 anos, o País não tivesse evoluído um pouco que fosse. Felizmente, é o contrário. Houve progresso. Houve quem tivesse feito bem. E é com isto que Cavaco Silva tem sérios problemas de expressão e de aceitação. Porque o homem que esteve no poder 20 anos em Portugal não mudou em aspetos negros que sempre o irão pautar: a começar por "não há ninguém melhor que eu". E este é o princípio basilar que define um estadista: a humildade e o Humanismo. E deste ponto jamais passaremos com Cavaco Silva. Nunca lá chegará. É pena, porque a mudança é sempre de louvar, sobretudo após uma vida intensa como foi a sua. Mas somos quem somos. E há coisas que, de facto, não mudam. Passem os anos que passarem.
📷 CNN Portugal
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