“O que acontece na Antártida não fica na Antártida”
“O que acontece na Antártida não fica na Antártida. A Antártida é fundamental para a saúde do oceano no geral, e é fundamental para a regulação do clima. Tudo o que acontece lá, mau ou bom, vai afetar os três biliões de pessoas que dependem das zonas costeiras a nível mundial”, diz Catarina Frazão Santos, investigadora no Departamento de Biologia Animal da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Ciências ULisboa) e no Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), em entrevista no canal YouTube da Faculdade, a propósito da distinção do Conselho Europeu de Investigação (ERC, sigla em inglês).
A bolsa de arranque do ERC, no valor de quase 1,5 milhões de euros, atribuída ao seu projeto ‘Planeamento do Uso Sustentável do Oceano na Antártida num contexto de Alterações Ambientais Globais (PLAnT)’, vai permitir que, pela primeira vez, haja um processo de ordenamento do espaço marinho inteligente do ponto de vista climático, isto é, climate-smart.
“O desenvolvimento de planos de ordenamento climate-smart é uma prioridade da Comissão Europeia e da UNESCO para os próximos cinco anos”, diz Catarina Frazão Santos, que acredita no impacto societal deste projeto a nível mundial.
Catarina Frazão Santos dá suporte à Comissão Europeia, ONU e ao Banco Mundial enquanto especialista em ordenamento do espaço marinho e alterações climáticas. A bióloga marinha, ou mais corretamente cientista interdisciplinar, é editora-chefe fundadora da nova revista do grupo ‘Nature’, dedicada à sustentabilidade do oceano ‘npj Ocean Sustainability’; e também é investigadora convidada da Universidade de Oxford e da NOVA School of Business and Economics. Com um mestrado em Gestão Ambiental e um doutoramento em Ciências do Mar, dá aulas de Alterações Globais no Oceano, no âmbito do mestrado em Ecologia Marinha, na Ciências ULisboa.
Nesta entrevista, disponível no YouTube, Catarina Frazão Santos dá a conhecer a sua pessoa, os objetivos e expectativas do projeto PLAnT, refletindo também sobre o contributo da Faculdade para o seu percurso profissional e a importância desta área de investigação.
“No contexto do novo acordo das Nações Unidas sobre o Alto Mar há uma nova atenção a ser dada a tudo o que são instrumentos de gestão espacial para águas internacionais. O ordenamento do espaço marinho, apesar de não estar referido de forma direta no acordo, é um tipo de instrumento de gestão espacial”, refere Catarina Frazão Santos, acrescentando que já foram debatidas as oportunidades e as limitações de desenvolver o ordenamento do espaço marinho em águas internacionais.
A investigadora conta que a Antártida é gerida num sistema de governança complexo e que o projeto PLAnT propõe uma visão nova e imparcial, que não depende de questões políticas.
Para Catarina Frazão Santos é necessário mudar o paradigma: “Temos definitivamente de mudar a forma como pensamos na gestão do oceano e da natureza em geral. Em primeiro lugar, temos de ter a noção de que não estamos a gerir o oceano, estamos a gerir a forma como as pessoas lidam com o oceano, usam o oceano, protegem o oceano. O que liga muito com educação, sensibilização, literacia. Temos de deixar de ver a conservação e o desenvolvimento como polos opostos. A conservação tem de ser a base do desenvolvimento, senão o desenvolvimento não é sustentável”.
O projeto PLAnT tem início previsto para o primeiro trimestre de 2024.
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