O poder de Jerónimo e Catarina.
O PCP reuniu este
domingo à tarde o seu Comité Central em Lisboa. Há muito que ando para abordar
o papel do PCP e do Bloco no acordo à esquerda. E à medida que os dias passam,
e que Bloco e PCP vão reagindo, é cada vez mais claro vislumbrar o
posicionamento dos dois partidos neste acordo a três. Há uma linguagem comum
que une Jerónimo de Sousa e Catarina Martins desde que assinaram o
memorando com o PS. Um discurso que passa pela necessidade de mudar a política
imposta pela direita nos últimos quatro anos, sendo agora necessária a
construção de uma política alternativa, patriótica e de Esquerda. O PCP, diz
Jerónimo, crê que esta mudança é «absolutamente indispensável para romper com o
poder do capital monopolista e com as limitações e constrangimentos decorrentes
da integração capitalista na União Europeia». É exatamente neste ponto que está
o detalhe e a prova de que, no que respeita a Jerónimo, ele jamais virou as
costas aos seus princípios programáticos. Quem conhece a forma de estar do PC
sabe que quando se compromete, a palavra dada é sagrada. E tudo o que está
escrito é para cumprir. Logo, o argumento de que o PCP foi incongruente com o
que defende cai por terra. Jerónimo não assinou nenhum papel a mudar de opinião
em relação ao capitalismo, à União Europeia e muito menos ao Euro. Jerónimo
assinou um papel que obriga António Costa a zelar pela defesa dos princípios
comunistas e que tem apenas uma direção: os trabalhadores. O que é
constrangedor é ver o embaraço dos dois partidos oposicionistas. PCP e Bloco
nasceram para ser oposição e não querem ser poder. Ora, nas bancadas da
Assembleia da República torna-se mais difícil e caricato o recuar de posições e
trincheiras em relação ao confronto com o atual Governo. Mesmo não querendo,
Catarina e Jerónimo têm de ser capazes de demonstrar que são peça-chave no
Governo de António Costa, mesmo não fazendo parte dele. Nunca tiveram na mão um
poder tão grande de fazer vingar as suas políticas. E além disso, nunca antes o
poder de fiscalizar a ação governativa chegou tão
longe e com tanta eficácia. Sem pressões de Bloco e PCP, António Costa não
governa, e nenhuma medida passará na Assembleia da República. Por esta razão,
Catarina e Jerónimo têm, a meu ver, um poder bem maior do que Costa, que se vê
refém de votos para governar. Ou isto corre bem ou, ao mínimo deslize, a bolha
rebentará. Resta saber como irá gerir Costa tudo isto em articulação com o mais
difícil cargo da Nação. Esse cargo é ocupado por Mário Centeno na pasta das
Finanças, onde, bem sabemos, não há margem para cedências nem pressões. O tempo
o dirá e confesso que estou curiosa para ver como irá a panela aguentar sem
arrufar.
*Crónica de 14 de dezembro de 2015 na Antena Livre, 89.7, Abrantes. OUVIR.
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