Com que direito me fazes isto?


Um choque. Assim foi a reacção que tive hoje quando peguei nos jornais da manhã. A notícia, triste, tomou conta de mim. Não o esperava. Acho que todos os que te adoram, António, foram apanhados de surpresa. Uma surpresa má.
«Mais dois anos e calo-me. Calo-me de vez, já chega. Só queria deixar a obra redonda». As tuas frases, em entrevista ao DN, foram como um murro no estômago. «Não vai escrever mais?», pergunta o jornalista. «Não publicarei mais. Sei lá se escrevo! Se conseguir, escrevo! Vou publicar este livro que acabei agora e escrever um último livro para arredondar a obra. Essa é a minha ideia. Depois, nessa altura, quando sair esse livro que arredonda, que eu penso que me levará dois anos de trabalho — se conseguisse começá-lo este ano —, acabam os romances, acabam as crónicas, acaba tudo e não publico mais nada. A minha voz falada ou escrita já não se ouvirá mais».
Com que direito me fazes tu isto, António? Os teus leitores, os que amam a tua escrita querem que escrevas até morrer. E eu exijo isso de ti. Por isso, vou fingir que não li esta entrevista. Vou fingir que me enganas. Para mim, nunca deixarás de escrever. Ouviste? Nunca!

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