Morreu Walter Cronkite: o americano em quem os americanos mais confiavam


«O que foi Walter Cronkite para a América, diz-se numa palavra: credibilidade. Era o americano em quem os americanos mais confiavam. Ele fez-me companhia durante tantas décadas – na televisão e nos livros que escreveu – que hoje o meu dia acordou mais vazio. Logo à noite não serei eu a dar a notícia da sua morte num qualquer telejornal, outros colegas o farão. Por isso aqui deixo esta breve nota sobre… o que Cronkite não era. Não entalava a sua opinião, explícita ou implícita, ao formular uma pergunta ao seu entrevistado. Evitava usar a palavra “eu”. Não confundia o entrevistado como se fosse um adversário, antes o confrontava somente com o vigor dos factos. Não era histriónico, não esbanjava gestos, geria as emoções pela voz. Era parco de adjectivos, não fazia editoriais nas introduções ou no termo das notícias. Articulava cuidadosamente as sílabas e fazia pausas correctas no fim de cada ideia. Não atropelava as notícias. O final de cada “pivot” era dito com energia, sem quebra de voz ou palavras sussurradas em suspiro. Praticava a arte dos silêncios sem prejudicar o ritmo. Impunha-se por uma dignidade austera. No seu discurso inteligente e simples não cabiam citações despropositadas ou cedências à tentação de ostentar a cultura que de facto possuía. Era humilde como só os sábios, cordial como só os fortes. E amava mais a sua profissão do que a sua imagem».

Carlos Pinto Coelho, esta manhã quando despertou para a morte de Walter Cronkite.

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