Esta é digna de publicação


Asfixia democrática - caso real

«Sinceramente, já estou cansado de ouvir a dra. Manuela Ferreira Leite falar em "asfixia democrática". Ela que até manifestou vontade em suspender a democracia por seis meses, pasmem-se! O PSD tem tido, nos últimos tempos, a presunção de ser dono da verdade. E tem tentado inundar os portugueses com suspeitas e insinuações sobre o PS e José Sócrates. Só por isso, e sem qualquer motivação partidária (porque não me revejo em nenhum dos acima citados), vou revelar situações da tal "asfixia democrática", protagonizadas por membros do PSD. Estamos nos inícios da década de 2000. No jornal diário onde trabalho, a secção de local, uma das mais fortes da redacção, não facilita e numa política de jornalismo de proximidade, vai de encontro aos problemas reais e concretos dos lisboetas. Não perdoa se há uma cratera numa rua há vários anos, se um par de candeeiros está desligado há meses ou se há uma qualquer ilegalidade numa obra. O leitor agradece e a CM Lisboa espuma. Tanto espuma que chega a uma altura em que entra em acção. No melhor estilo dos filmes norte-americanos, um dos assessores da CM faz na perfeição o papel de cão ensinado pelo dono. Entra em contacto com a ADMINISTRAÇÃO do jornal e começa a "gerir" a informação que deve ou não ser publicada. Mais a que não deve, para falar correctamente. Como? Simples: Ameaça retirar toda a publicidade institucional da CML do jornal, retirar todos os editais da CML do jornal, dificultar ao máximo a subsistência financeira da empresa, já de si muito difícil. E não é que deu resultado? Várias vezes vi o administrador português - a empresa era detida por ESPANHÓIS - descer as escadas e entrar em conflito com os editores, "recomendando" a não publicação de certas notícias, manchetes incómodas para o PSD. A tensão na redacção era grande e esta política de - ah, como devo chamá-la? - "asfixia democrática", só serviu para dar razão a quem sempre lutou pela igualdade sem servilismo, liberdade e jornalismo intransigente e de causas, como o caso dos referidos dois editores de local. Mas é difícil lutar contra o gigante, e a corda, passei a acreditar eu desde esse dia, parte sempre do lado dos mais fracos. As manobras do partido à frente da câmara foram eficazes. Os dois jornalistas foram despedidos. O administrador acabou por ser filiado com pompa e circunstância no PSD, na cidade do Porto, perante alguns dos mais importantes membros do partido. Os ESPANHÓIS fecharam o título e fugiram para casa. O jornalismo de proximidade e fiscalização ao trabalho da CML terminou. Hoje, passados vários anos, testemunhei novo caso com um dos mesmos intervenientes. Entre muitas outras "ilegalidades" no contacto com um jornalista, até o título de uma entrevista "exigiu" que fosse mudado. Teve mais azar. Não foi. Como diz Mário Soares, "talvez o problema da asfixia democrática, resulte do termo utilizado. Deveríamos antes falar, no mal estar da democracia." Ps. Há muitos jornalistas por aqui a ler isto. Agora façam o vosso trabalho e deixem de ser, como um dos mestres da imprensa me ensinou, meros "pés de microfone"».
Texto de Rui Teixeira, camarada de profissão, na sua página do Facebook.

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