Portugalidade: Linhares da Beira, a pérola da Beira que guarda segredos medievais

Falar de Linhares da Beira é, para mim, algo muito íntimo. Foi nesta aldeia histórica que passei um dos melhores tempos da minha vida, em reportagem, descobrindo-lhe a história mas também os seus segredos, medievais e também atuais. Linhares oferece ao visitante paisagens únicas, típicas da Beira, de ar puro, e águas frescas, cultura, artes medievais e renascentistas. Um postal único e carregado de portugalidade!

Situada na vertente ocidental da Serra da Estrela, quando chegamos, olhar para ela, é quase como que observar um bilhete-postal, e se for inverno, o cenário é ainda mais especial, pelo manto branco que a cobre, pela especial luz que a povoa.

Vila de fundação medieval, com foral concedido em 1169 por D. Afonso Henriques, a história de Linhares, tem origem no contexto gerado com a Reconquista Cristã. Estabilizadas as fronteiras do reino português, Linhares continuou a ter significado estratégico pelo menos até ao século XVII, pois fazia parte do sistema defensivo que guardava a Bacia do Mondego, na retaguarda das fortificações da raia beirã.

O nome, dizem, vem de uma das culturas outrora mais importante na região, o linho, e é nele que reside a origem do nome de Linhares, literalmente campo de linho.

Um passeio pela povoação revela um harmonioso conjunto urbano cheio de encanto, onde as casas simples construídas em granito convivem com alguns solares que preservam sinais de uma nobreza antiga.

O olhar atento descobrirá ainda muitas janelas do século XVI. A igreja matriz, de raiz românica, mas reconstruída no século XVII, guarda três valiosas tábuas atribuídas ao grande Mestre português Vasco Fernandes (Grão Vasco).



Uma rústica tribuna elevada sobre um banco em redor de uma mesa de pedra constitui exemplar único de fórum medieval donde se anunciavam à população as decisões comunitárias. É aqui que se pode ver as armas da antiga vila. Ao lado, destaca-se o pelourinho quinhentista em granito, rematado pela esfera armilar (ver mais abaixo). 

Castelo 

O castelo, erigido no reinado de D. Dinis, é um dos mais bonitos do país. Para mim, claro.  

Integrado no sistema defensivo beirão, foi construído a mais de 800 m de altitude, num terreno desnivelado e rochoso. Existia já com D. Sancho I e foi reformado por D. Dinis em 1291.

Apresenta 2 recintos amuralhados, 2 torres, 4 portas e 2 cisternas, tendo sido intervencionado a partir dos anos 40. Trata-se de uma construção imponente, integrada na linha de fortalezas da região beirã. Esta importante estratégia defensiva foi sendo construída desde os tempos do Fundador da dinastia para proteger o flanco leste do território de possíveis investidas inimigas. 



A vila descreve, no sopé do Castelo, um perímetro triangular, em cujos vértices se situam três espaços ordenadores da malha urbana: o Largo da Misericórdia, à entrada da povoação; o Lago. de S. Pedro, na zona denominada “Cimo da Vila”; e o Lago da Igreja, próximo do Castelo e no acesso ao Campo da Corredoura, terreno de uso fruto comum.

Estes largos definiram-se em torno de igrejas – hoje desaparecida a de S. Pedro – e constituíam o centro das paróquias de fundação medieval. Na base do triângulo e no ponto oposto à Matriz, localiza-se o Lago do Pelourinho, outrora o centro cívico da Vila. 

A malha urbana desenvolvida dentro destes limites foi muito condicionada pela natureza acidentada do terreno e por limitações de espaço, onde as construções se levantaram sem obediência a uma planificação prévia. Daí os quarteirões irregulares, as ruas estreitas e de perfil sinuoso, as travessas a recortarem as casas, umas e outras pontuadas por escadas.

No património arquitetónico de Linhares destacam-se alguns edifícios ligados à vivência urbana mais antiga de Linhares. Da assistência ao peregrino, pobres e doentes sobra-nos o edifício do Lago da Misericórdia, que acolheu duas instituições típicas da sociedade medieval e moderna – a Albergaria e o Hospital.

Também do abastecimento de água, temos para observar três fontes documentando esta arquitetura de equipamento dos séculos XII, XVI e XIX.

No domínio da habitação os exemplos são mais profusos. Além da casa tradicional e popular disseminada por toda a vila, contam-se as casas nobres dos séculos XVIII-XIX e destacam-se, pelo número avultado de testemunhos, aquelas que mostram janelas e portas decoradas ao gosto Manuelino (século XVI), quase sempre moradias de proprietários agrícolas mais abastados ou de burguesia local ligada ao comércio.

Entre estes encontrava-se a comunidade judaica, minoria étnica e religiosa obrigada a viver apartada da comunidade cristã e cujo bairro – judiaria – se situava numa transversal à Rua Direita: sobre a porta de acesso ao bairro (Arco) figura uma das mais elaboradas janelas manuelinas de Linhares. 

Antiga Casa da Câmara e cadeia 

Edifício de dois pisos, ornamentado com as armas de D. Maria (1777-1816), encontra-se enquadrado pelas outras construções municipais como o fórum e o pelourinho. Foi escola e residência de professores e, nos dias de hoje, alberga as instalações da Junta de Freguesia de Linhares, tendo como recheio algumas peças decorativas de interesse histórico. 

Pelourinho 

Pelourinho quinhentista de ornamentação manuelina com a esfera armilar e uma cruz. A sua expressiva verticalidade é o símbolo da personalidade jurídica do concelho. Por vezes nele eram aplicados castigos públicos, para servirem de exemplo da justiça concelhia. Este Pelourinho está relacionado com a concessão do foral manuelino de 1510. Nele podia ter lugar a aplicação de certos castigos, mas nunca a execução de qualquer sentença de morte.



Lendas e Tradições

 

Os habitantes de Linhares gozam da fama histórica de se distinguirem pela bravura. 


Segundo conta a tradição, no sítio de Azurara, próximo de Mangualde, existiu um castelo que deu o nome à igreja desta invocação, habitado por um chefe mouro de nome Zurar, o qual semeava o terror naquelas paragens. 


Os serranos de Linhares venceram-no e expulsaram-no. Pelo que a Câmara de Viseu ia todos os anos à ermida, em romagem, e do mais alto monte o Alferes-mor voltava-se para o lado de Linhares agitando o estandarte municipal, como que a saudar os libertadores do lugar e exclamando três vezes seguidas: Victor Linhares. 

 

Gastronomia beirã na Cova da Loba

 

Foi no restaurante Cova da Loba que acabei por morrer. Porque depois de visitar Linhares, acabar aqui, é como acabar no céu.




Um restaurante moderno, que combina a tradição com o requinte. Desde gaspacho de cereja à sopa de perdiz, passando pelo carpaccio de vitela ao polvo grelhado com migas, ao lombo de bacalhau no forno ou ao peito de pato caramelizado, acabando no cabrito da serra grelhado, aqui saboreiam-se sabores da Beira, carregados de produtos autóctones, únicos desta região que tão bem sabe acolher. É fácil de encontrar, fica situado mesmo no centro da aldeia. 


Depois da pandemia passar, não hesite, Linhares da Beira espera por si, e espera-o, assim, serena e tranquila, e com tempo. Porque, tempo, é coisa que aqui, não falta!

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BI – Linhares da Beira 

População: 259 habitantes

Área: 15.71 km2

Concelho: Celorico da Beira

Contactos:

Email: geral@cm-celoricodabeira.pt

Site: www.cm-celoricodabeira.pt

Telefone:  271 747 400

Fontes e Crédito das Fotos: Câmara de Celorico da Beira, Cova da Loba e Aldeias Históricas de Portugal.

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